sábado, 3 de setembro de 2011

CONVERSANDO SOBRE A BÍBLIA


1. Deus se revela
 A história da revelação começou com a criação do mundo. O universo, a natureza, por si mesmos nos revelam o Criador (Rm 1,19-20). Depois Deus se revelou a nossos primeiros pais e, após destes, prometeu a salvação (Gn 3,15). A seu tempo, Deus chamou a Abraão, a fim de fazer dele um grade povo (Gn 12,2-3). Este povo foi educado por meio de Moisés e dos profetas para reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro e para esperar o salvador prometido. E assim Deus foi preparando, ao longo dos séculos, o caminho para o Evangelho, revelado por Jesus Cristo. “Depois de ter falado de muitas formas e de diversos modos pelos profetas, ultimamente, Deus nos falou por Seu Filho”, (Heb 1,1-2).

2. A Bíblia
Uma abordagem completa e diversificada:
Para que o estudo da Bíblia, e até a simples leitura, seja frutuoso e enriquecedor é necessário uma abordagem que levem em conta os diversos aspectos dos livros sagrados:
1)      Uma abordagem de fé, acreditando que a Bíblia nos transmite a ‘Palavra de Deus’, viva e eficaz para nós, aqui e agora.
2)      Uma abordagem humano-espiritual, sabendo que ela é expressão e manifestação de uma experiência religiosa determinada no tempo e no espaço.
3)      Uma abordagem histórico-literária, levando em conta que sua formação é o resultado de um processo literário que se desenvolveu lado a lado à história de um povo, Israel, de cuja vida é espelho.
4)      Uma abordagem científica, procurando um saber objetivo com o auxílio dos recursos das diferentes disciplinas modernas.
5)      Uma abordagem teológica, considerando que ela é parte de um projeto mais amplo da revelação salvífica de Deus.
6)      Uma abordagem eclesiológica (= Comunitária), julgando que sua interpretação não é fruto do esforço ou da inspiração subjetiva do indivíduo, e sim partilha de vivência e estudo, prática e meditação dentro de uma comunidade de crentes.
7)      Uma abordagem ecumênica, contemplando sua aceitação como Livro Sagrado de diversas Igrejas e Religiões e seu alcance como modelo universal. A Bíblia é patrimônio da humanidade!

A Bíblia, também chamada Sagrada Escritura ou livros sagrados, é a Palavra de Deus revelada a nós, nos tempos antigos pelos patriarcas e profetas, nos últimos tempos por Jesus e pelos apóstolos. O autor principal da Bíblia é Deus. E o conteúdo dos livros sagrados é a história da Salvação. A Bíblia é uma verdadeira biblioteca. Compõe-se de 73 livros e se divide em duas grandes partes: o Antigo Testamento (AT), que contém 46 livros que falam sobre a Revelação de Deus antes da vinda de Jesus, e o Novo Testamento (NT), que contém 27 livros, os quais transmitem a Boa Nova (Evangelho) de Jesus e os ensinos dos Apóstolos. Os Livros do Novo Testamento foram escritos na segunda metade do I século da nossa era.

2.1. COMO FOI ESCRITA A BÍBLIA?
Como estas histórias e experiências foram registradas? Não havia os recursos materiais que temos hoje: canetas, papel, tinta e nem mesmo a própria escrita, que só começou a ser usada muito tempo depois. Para se comunicar eles dispunham:
a)      Da Memória - Deus deu às pessoas a grande capacidade de lembrar e transmitir coisas e este foi o primeiro recurso de comunicação usado pela humanidade. Todos os acontecimentos tristes e alegres, vitórias e derrotas, contratos e tudo o que lhes acontecia e era guardado na memória e transmitido de geração em geração através da fala. Isto se chama TRADIÇÃO ORAL.
b)      Da Escrita - Quando o povo começou a escrever o que estava guardado na memória, usou tábuas, pedras, argilas, papiro, até chegar no papel, que foi descoberto muito tempo depois de Jesus - TRADIÇÃO ESCRITA.

3. Divisão dos Livros da Bíblia
 a) Os livros do Antigo Testamento:
          Pentateuco: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Estes primeiros cinco livros são chamados de Pentateuco, isto é, cincos rolos/livros que contêm a Lei da Antiga Aliança (Torah).
          Livros que contam a história do povo de Deus ou Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas ou Paralipômenos, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Éster, I e II dos Macabeus.
          Livros de Sabedoria ou Sapienciais: Jô, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico.
          Livros que falam das Profecias ou Livros Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

b) Os livros do Novo Testamento:
          Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João. A palavra evangelho (do grego euangelion, formado por  eu, que significa “bem”, e angello, “anuncio”, daí  “bom anúncio”, boa notícia) era conhecida no mundo romano, sendo utilizada para anunciar eventos felizes, vitórias militares ou grandes acontecimentos na vida do imperador. Cada um dos quatro ecangelhos narra a boa notícia de Jesus, sua vida e missão, desde seu nascimento até a paixão, morte e ressurreição.
          Atos dos Apóstolos: O evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos formam uma só obra. Enquanto no evangelho de Lucas temos o caminho de Jesus, nos Atos dos apóstolos temos o caminho das primeiras comunidades cristãs. A mensagem central dos Atos é o testemunho dos discípulos: tendo recebido o Espírito Santo, eles divulgam a boa nova de Jesus até os confins da terra.
          As Cartas dos Apóstolos:
¨       Cartas de Paulo:  São 14: aos Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Felipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Filêmon e aos Hebreus. Delas, 9 são dirigidas a comunidades cristãs (Rm, I e II Cor, Gl, Ef, Fl, Cl, I e II Ts), 3 cartas pastorais, isto é, dirigidas a líderes ou “pastores” (I e II Tm, Tt), 1 dirigida a um cristão, chamado Filêmon (Fm) e uma carta dirigida, em geral, aos Hebreus (Hb).
¨       Epístolas católicas: São chamadas assim porque não se dirigem a uma pessoa ou uma a uma determinada comunidade, mas a todas as igrejas cristãs. São as Cartas de: Tito, I e II Pedro, I, II e III João e Judas.
          Livro Profético: Apocalipse. É o último livro da Bíblia e significa “revelação”. Seu autor (é atribuído a João) deseja sustentar a fé dos primeiros cristãos e encorajá-los a suportar com firmeza as primeiras perseguições, principalmente as de Nero e Dociciano, imperadores romanos. Não é um livro de “mistérios”, nem anuncia desgraças para os cristãos. Pelo contrário, é um livro que conforta e dá coragem. O autor usa uma linguagem simbólica, mas que é entendida pelos cristãos.

4. As Línguas da Bíblia
São três as línguas da Bíblia: o hebraico, o aramaico e o grego. São chamadas línguas bíblicas porque os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento foram escritos em algum destes três idiomas. O hebraico é a língua do povo hebreu. A maior parte dos livros do Antigo Testamento foi escrita em hebraico. O grego era língua popular no tempo de Cristo e dos Apóstolos. Os Livros do Novo Testamento foram escritos nesta língua.

5. Inspiração da Bíblia
Na redação dos Livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, a fim de que, agindo Ele próprio neles, escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que Ele próprio quisesse (Concílio Vaticano II: 1962-1965). Assim sendo, Deus torna-se o autor principal, e certos homens, atores secundários da Bíblia. Esses homens são instrumentos livres, conscientes e ativos. Eles imprimem ao texto sagrado o seu próprio estilo.
Para nós católicos a tradição divina-apostólico-esclesiástica tem como inspirados por Deus 73 livros que compõem a nossa Bíblia. Quando a Bíblia ensina verdades religiosas e morais não pode errar. Trata-se de verdades divinas, às quais corresponde na Igreja e em cada homem a aceitação interior e exterior baseada na fé em Deus. O objetivo da inspiração bíblica é religioso, pois nos ensina aquilo que o homem não pode compreender por sua inteligência, ensina-nos o plano de amor e Salvação que Deus tem para nós.
Portanto, a Bíblia não é um estudo sobre ciência como a geografia, história ou astronomia. Para entendermos a Palavra de Deus é necessário conhecermos o ambiente e os costumes dos povos aos quais pertenciam os escritores bíblicos. Esse conhecimento é importante para percebermos o sentido religioso da Bíblia. Entendido o conjunto que compõe determinado livro como: país, costumes, situação social, política e economia; situação geográfica e estilo de redação, perceberemos, então, com melhor clareza, a mensagem que Deus quer transmitir a nós homens, que passamos pelos mesmos problemas e crises dos escritores sagrados. Por isso podemos descobrir que textos bíblicos iluminam fatos semelhantes de nossa vida cotidiana.

6. Conseqüência da Inspiração Bíblica
Porque a Bíblia é, na sua totalidade e em cada uma de suas partes, inspirada por Deus, ela não contém erro, nem se contradiz quando nos ensina sobre a fé e a moral, necessárias para nossa salvação. Pois o Espírito Santo que inspirou os autores sagrados, tanto do Antigo como do Novo Testamento, é sempre o mesmo.

7. Interpretação da Bíblia
É necessário interpretar a Bíblia para saber qual é, exatamente, o pensamento do autor sagrado, qual é a verdade revelada por Deus e o seu autêntico sentido. Eis o grande e o mais difícil problema de quem a lê. É comum ouvir dizer que “cada um lê e interpreta a Palavra de Deus como quer, ou melhor, como pessoalmente e interiormente lhe inspira o Espírito Santo”. É o conhecido princípio do livre exame. A conseqüência disto é o surgimento das diferentes crenças ou seitas. Para nós católicos, “existe uma autoridade credenciada por Cristo para interpretar, autenticamente e com autoridade infalível, a Bíblia. Para nós a Igreja hierárquica – Papa, Bispos em comunhão entre si – gozam da assistência divina para a exata interpretação da Bíblia” (Vaticano II).

8. Gêneros Literários
Falamos anteriormente que para escrever a Bíblia os autores sagrados utilizaram diversos recursos da linguagem humana. Gênero literário é a variedade, tipo, maneira, estilo, natureza, técnica de linguagem que o escritor de uma determinada época usa para escrever sobre um assunto.

Na Bíblia encontramos os seguintes gêneros literários:

          No Antigo Testamento:
a.    Histórico para a edificação do povo. Temos como exemplo os livros de Tobias, Ester, Judite
b.    Narração: Exemplo: A burrinha de Balaão  (Nm 22)
c.    Lei. Exemplo: Os dez mandamentos (Ex 20 e Dt 5)
d.    Poesia. Exemplos: O Livro do Cântico dos Cânticos
e.    Profecias. Exemplos: O Livro de Daniel
f.     Sabedoria divina. Exemplo: O Livro de Provérbios
g.    Hinos. Exemplos: O Livro de Salmo

          No Novo Testamento:
a.    Parábola. Exemplo: A Parábola do Filho Pródigo – Lc 15,11-32
b.    Narração. Exemplo: A Cura de um Paralítico – Mt 9,1-7
c.    Testemunho. Exemplo: O Evangelho de São João
d.    Feitos. Exemplo: Os Atos dos Apóstolos
e.    Cartas. Exemplo: As Cartas de São Paulo aos Coríntios
f.     Apocalipse. Exemplo: Apocalipse de São João

É necessário, portanto, que ao estudarmos cada livro levemos em conta o seu gênero literário, porque cada gênero literário tem suas regras de interpretação.

9. Diferença entre a bíblia católica e a protestante
A Bíblia Católica e a Bíblia protestante são iguais como Palavra de Deus. Tanto uma como a outra deve ser respeitada e venerada, pois elas são de fato uma e a mesma Palavra de Deus. A única diferença que há entre elas é quanto ao número de livros. Os fariseus antigos ao organizarem a lista dos livros da Bíblia, julgaram que, para serem inspirados por Deus, os Livros deveriam ser:
          Antigos, isto é, não escritos depois de Esdras e Neemias (séc. V a.C.);
          Escritos em língua “sagrada”, ou seja, hebraico e aramaico;
          Fossem de acordo com a lei de Moisés;
          Tivessem origem na Palestina e não em terra estrangeira.
Os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, I e II Macabeus, além de parte de Daniel e Ester, não satisfaziam todos esses requisitos; por isso não foram aceitos pelos fariseus na organização e fixação do cânon (lista) dos livros da Bíblia Hebraica. Os protestantes adotaram o cânon hebraico, por isso a Bíblia deles faltam os sete livros mencionados a cima.

10. A Tradição
A Tradição = transmissão oral. Tradição é a transmissão oral da Palavra de Deus confiada por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles em sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam. Jesus pregou sem deixar nada escrito, Jesus também não mandou que outras pessoas escrevessem nada. Portanto, o Evangelho no princípio foi anunciado de viva voz (tradição); só depois e aos poucos foi escrito. Enquanto a Sagrada Escritura é a Palavra de Deus escrita sob a inspiração do Espírito Santo, a Tradição é transmissão oral da Palavra de Deus pelos Apóstolos aos seus sucessores, confiada a eles por Jesus e iluminada pela luz do Espírito Santo. Os Apóstolos e seus sucessores a transmitem integral e fielmente através da pregação (cf. Dei Verbum 9). “Eu vos transmiti àquilo que eu mesmo recebi” (I Coríntios 15,3; 11,23). “O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a outros” (II Tm 2,2).


12. usando abreviaturas e citações
Para encontrar as passagens bíblicas com mais facilidade e para ajudar o manuseio e a leitura da Sagrada Escritura, os livros foram divididos em capítulos e versículos. As citações do texto bíblico são apresentadas da seguinte forma: Nome do Livro, seguido do capítulo e do versículo. Ex.: Mt 5,23.
É muito importante saber distinguir o valor dos diversos sinais de pontuação:
          A Vírgula (,): Separa o capítulo do versículo. Ex.: At 13,1
          Ponto (.): Indica um salto entre os versículos. Ex.: Rm 8,1.5.24 (Carta aos Romanos, capítulo 8, versículo 1,5,24).
          Hífen (-):  indica que se deve ler deste um versículo até o outro, sem omitir os intermediários. Ex.: Tg 4,1-4 (livro de Tiago, capítulo 2, versículos 1, 2, 3 e 4).
          O ponto e vírgula(;): separa citações, dentro do mesmo livro ou de um livro para outro. I Coríntios 1, 13-14; 24-26 (primeira Carta aos Coríntios, capítulo 1, versículo 13 a 14 e versículo 24 a 26). Ou Ap 2,4; 3,1 (Livro do Apocalipse, capítulo 2, versículo 4 e capítulo 3 versículo 1). Ou ainda I Jo 3,4; Fm 3,2 (primeira Carta de João, capítulo 3, versículo 4 e carta a Filêmom, capitulo 3, versículo 2).
          Um esse (s): Indica o versículo imediatamente seguinte ao número que o precede. Ex.: Ef 1, 3s (carta aos Efésios, capítulo 1, versículo 3 e 4).
          Dois esses (ss): Designam os dois versículos imediatamente seguintes. Ex.: Col 4, 4ss (carta aos Colossenses, capítulo 4, versículo 4, 5, e 6).
          Quando não se indica o versículo: É porque se trata do capítulo inteiro. Ex.: Lc 3 (Evangelho segundo Lucas, capítulo 3).
          Casos especiais (Gn 11,3-14,7): Note-se que depois do hífen existe outra vírgula, e não o ponto-e-vírgula como no exemplo anterior. Como vimos, o número antes da vírgula indica sempre o capítulo. Assim, a citação Gn 11,3-14,7 está indicando o livro do Gênesis, do capítulo 11, versículo 3, até o capítulo 14, versículo 7.

A palavra Evangelho passou a significar a própria mensagem de Jesus Cristo, a Boa Notícia que Ele trouxe para nós da parte do Pai. A Bíblia é a carta de Deus Escrita para você com todo o amor! Gaste seu tempo lendo, meditando e estudando esta carta. A Bíblia Sagrada é para você: ler estudar, orar, sublinhar os trechos que mais lhe tocarem, fazer anotações, enfim gravar a Palavra de Deus em seu coração. “Se compreenderdes estais coisas, sereis felizes, sob a condição de as praticardes”, (Jo 13,17). Porque se não dedicamos nosso tempo em orar e estudar Sua Palavra, não ficamos sabendo qual é a vontade de Deus. Se não conhecemos a sua vontade, não podemos colocá-la em prática. Quando transformamos a Palavra em vida podemos ser felizes. Você vai entender a Palavra de Deus muito bem, porque ela foi escrita para você!
 
Bibliografia consultada:
1.   ABC da Bíblia. Belo Horizonte, Paulus.
2.   BAZAGLIA, Paulo. Primeiros Passos com a Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004.
3.   Constituição Dogmática Dei Verbum; Bíblia de Jerusalém; Apostilas do Curso de Introdução à Bíblia, ministrado pelo Pe. Giovanni Martoccia, sx e FONSATTI, Pe. José Carlos. Introdução à Bíblia. Vozes, Petrópolis, 2001.