domingo, 17 de abril de 2011

Síntese da obra “Teologia da Solidariedade: uma abordagem da obra de Gustavo Gutiérrez” elaborada por Pe. Márcio Pinheiro


1. Introdução
Diante das mudanças constantes da sociedade globalizada e do fim do socialismo marxista, padre João Carlos de Almeida, iluminado pelas reflexões de Gustavo Gutiérrez, propõe/descobre uma nova teologia: a Teologia da Solidariedade. Antes de tudo é importante destacar que para Gutiérrez “a vida, a contemplação de fé, o silêncio da práxis e o compromisso vem primeiro, depois surge a teologia”.
O ponto de partida é o compromisso solidário com as pessoas que vivem num mundo de empobrecidos. O conceito e a noção de salvação é o ponto crucial para o entendimento da teologia e da vida de Gutiérrez. O método é refletir a partir do compromisso solidário, tendo sempre uma visão unitária da história, em vista da salvação real e concreta, desde agora, transformando toda realidade humana e levando-a à sua plenitude em Cristo. A iniciativa é sempre fruto da gratuidade e da graça de Deus que convida o homem a participar e colaborar com sua obra salvífica.


2. Conteúdo geral[1]
            “A salvação é a noção central do mistério cristão”. Segundo Gutiérrez a ausência de uma reflexão profunda e lúcida sobre o tema da salvação provocou uma enorme lacuna na teologia. Esta observação é essencial, pois nos adverte para não cairmos nos reducionismos, isto é, considerar a salvação apenas como ultrarerrena (redução sobrenatural e escatológica), individualista (redução eclesiocêntrica), espiritualista ou como uma solução política que ignore a fé (redução edeológica, messiânica e política). Além desses reducionismos, João Carlos acrescenta a redução historicista que consiste em considerar a unidade da história.
            A iniciativa é sempre de Deus. A ação salvífica de Deus conduz toda a existência humana; a comunhão com o Senhor e com todos é antes de tudo um dom. Noutras palavras, segundo Gutiérrez a salvação é fruto da graça de Deus, mas também tarefa do ser humano. Isto requer e supõe atenção, disposição ativa, trabalho, fidelidade à vontade de Deus e é garantia da frutificação dos talentos recebidos. Neste contexto, a oração e o compromisso fazem parte da práxis cristã, isto é, a fé e as obras estão unidas no coração da práxis.
            O Reino de Deus é sempre um dom gratuito e o amor de Deus está além dos merecimentos humanos. Neste sentido, Gustavo Gutiérrez avalia a Teologia da Libertação como sendo “uma teologia da salvação total ou integral nas condições concretas, históricas e políticas de hoje. Para ele há três níveis de libertação: a libertação política dos homens oprimidos e das classes sociais oprimidas; a libertação do homem no curso da história e a libertação do pecado, raiz de todos os males, condição para uma vida de comunhão de todos os homens com o Senhor.
            Depois de explicitar, esclarecer e indicar os níveis de libertação, Gutiérrez apresenta uma síntese: a salvação é comunhão dos homens com Deus e dos homens entre si. Ele insiste que a salvação é, também, uma realidade intra-histórica que orienta, transforma e leva a história à plenitude. Essa plenitude acontece em Cristo. Assim, para entender a categoria teológica da “comunhão” é preciso perpassar pelo mistério da “Encarnação” e da “Páscoa” de Jesus Cristo.
            A seguir, João Carlos, destaca que o termo “solidariedade” remonta à época do Império Romano, ao solidarismo francês do século XIX, ao pontificado de João XXIII e, de modo mais intenso, no de Paulo VI, até chegar em João Paulo II que faz da solidariedade a coluna central de sua doutrina social. Gustavo Gutiérrez recebe essa tradição, a partir de Medelim, Puela e Santo Domingos, desenvolve-a e apresenta o seu próprio conceito de solidariedade.
Almeida registra a emergência e a evolução do termo solidariedade na obra de Gutiérrez: da caridade à solidariedade (década de 1960); solidariedade e revolução-libertação (década de 1970); solidariedade e comunhão (década de 1980). Ressalta ainda outras linguagens da solidariedade e apresenta a distinção entre a palavra e o conceito de solidariedade.
Gutiérrez nos oferece uma tentativa de conceitualizar a solidariedade cristã, hoje: “para todos os cristãos, a solidariedade expressa um amor eficaz por todos e em em particular pelos mais indefesos da sociedade”. Joãos Carlos afirma que podemos simplificar o conceito de solidariedade em Gutiérrez com a expressão: “amor eficaz e preferencial aos pobres”. Para Gustavo “optar pelo pobre é optar por uma classe social contra a outra. Tomar consciência do fato do confronto entre classes sociais e tomar partido pelos despossados. Optar pelo pobre é entrar no mundo da classe social explorada, de seus valores, de suas categorias culturais. É fazer-se solidário com seus interesses e com suas lutas”.
A solidariedade com os pobres exige, portanto, uma práxis libertadora vivida muitas vezes em meio a luta de classes. Esse é um ponto polêmico e devemos entendê-lo bem. Dito de outra maneira: a solidariedade com os pobres é a matriz de toda a teologia de Gustavo Gutiérrez. A pobreza deve ser entendida nas suas várias dimensões: espiritual, real, compromisso de solidariedade com os pobres. O termo pobreza é ambíguo, pois esconde vários significados.
A pobreza material é um estado escandaloso. A pobreza espiritual é uma atitude de abertura a Deus, de infância espiritual (...). A pobreza é um ato de amor e libertação. Tem um valor redentor. Assim, a pobreza cristã não pode, então, ter sentido senão como um promomisso de solidariedade com os pobres, com aqueles que sofrem miséria e injustiça, a fim de destemunhar o mal que estas – fruto do pecado, ruptura da comunhão – representam. Não se trata de idealizar a pobreza mas, pelo contrário, de assumi-la como o que é: como um mal; para protestar contra ela e esforçar-se para aboli-la. Assim, somente uma autêntica solidariedade com os pobres e um real processo contra a pobreza tal como se apresenta em nossos dias pode dar um contexto vital e concreto ao discurso teológico sobre a pobreza.
Ser pobre é também uma maneira de sentir, de conhecer, de pensar, de fazer amigos, de amar, de crer, de sofrer, de festejar, de orar. Em outros termos, os pobres constituem um mundo. Comprometer-se com eles é entrar – ou em certos casos ficar nele – nesse universo, viver nele; considerá-lo não lugar de trabalho senão de resistência. Não ir a esse mundo algumas horas para ali dar testemunho do Evangelho, mas sair dele cada manhã para anunciar a Boa Nova a toda pessoa. Aqui encontramos o sentido da “opção preferencial pelos pobres” de Puebla e a confirmação em Santo Domingo: “a pobreza” de que se fala é a pobreza material; a “preferência” é a pobreza espiritual; e a “opção” é o compromisso contra a pobreza.
O autor esclarece que a solidariedde não é apenas um discurso ou uma nova nomenclatura teológica. A solidariedade tem conteúdo, tem raízes bíblicas e fundamentos soteriológicos que expressam a comunhão, raiz semântica da salvação. É por isso que Gutiérrez não cansa de repetir que a solidariedade é ato primeiro e a teologia, ato segundo. Assim, só é possível responder a pergunta sobre o “como falar de Deus” depois de viver o ato primeiro. Dito de outra maneira: “é necessário situar-se em primeiro momento no terreno da mística e da prática (solidariedade), só posteriormente pode haver um discurso autêntico e respeitoso sobre Deus (teologia). A pertinência do discurso exige a eloquência”.
Almeida ressalta que a linguagem mística é expressão da gratuidade e a linguagem profética é expressão da exigência, da justiça. “Entre a graça e a exigência vive o seguidor de Jesus”. Por isso, segundo Gutiérrez, a linguagem adequada sobre Deus inclui a canção de louvor e o grito por libertação. Assim, “a comunhão na dor implica vigilância e solidariedade. O empenho por aliviar o sofrimento humano e sobretudo por eliminar suas causas na medida do possível é uma obrigação do seguidor de Jesus. Isto supõe ter uma autêntica compaixão humana, assim como uma certa inteligência da história humana e seus condicionamentos; requer também a firme e perseverante vontade de estar presente ali onde a injustiça maltrata um inocente, doa a quem doer”.
Neste contexto, Gutiérrez indica implicitamente uma teologia da solidariedade ou teologia solidária. Ele não utiliza estas expressões, mas utiliza a expressão “teologia comprometida”. Segundo ele, “a solidariedade motivada por valores evangélicos se abre de algum modo a todo esforço por construir autenticamente a fraternidade e a justiça. A fé nos faz ver que nesse compromisso a graça de Cristo está presente, qualquer que seja a consciência que responda às verdadeiras e mais agudas questões do mundo contemporâneo no qual vivem e dão testemunho as comunidades de base. É condição, em última instância, para elaborar uma teologia séri\, científica e responável.
Por fim, o autor sugere que os novos teólogos possam elaborar uma teologia da solidariedade, que inclua também a subsidiariedade, como intuiu a Doutrina Social de Igreja; esta deve ter como categoria fundamental a Trindade, matriz de toda solidariedade soteriológica. A pertinência e a relevância da Teologia da Solidariedade dependerá da capacidade do teólogo de ser aprendiz dos pobres. Neles Deus escondeu a sabedoria que gostaríamos de ver escrita em nossas teses e nossos livros.


3. destaques do texto
            O livo “Teologia da Solidariedade: uma abrdagem da obra de Gustavo Gutiérrez” é bem sugestivo e nos fez ver, dentre outras coisas, que uma das características marcantes do pensamento de Gustavo Gutiérrez é colocar a vida em primeiro lugar. Encontramos esta insistência em toda a sua obra: “primeiro é o compromisso de caridade, de serviço. A teologia vem depois, é ato segundo.
            Foi muito enriquecedor esse estudo; alargou nossa compreensão acerca da Teologia da Libertação e nos fez entender o que significa “libertação e solidariedade soteriológicas”. O conceito de salvação, a salvação como comunhão, a solidariedade como linguagem, a solidariedade com os pobres e como método teológico e a proposta de uma teologia da solidariedades são os destaques que fazemos deste estudo.


4. apreciação de alguns pontos
            Dada a riqueza e a atualidade do tema, faz-se necessário retomar algumas questões pertinentes e importantes estudadas até agora: a Igreja no processo de libertação, libertação e salvação, propostas por Gustavo Gutiérrez no livro “Teologia da Libertação: perspectivas[2]” e a “opção preferencial pelos pobres”, proposta por João Carlos Almeida no livro “Teologia da Solidariedade”, em Puebla, Medelim e Santo Domingos”:
  • A Igreja no processo de libertação: Segundo Gustavo Gutiérrez a Igreja na América Latina viveu e continua a viver, em grande parte, em estado de gueto. Em alguns momentos esteve atrelada àqueles que detêm o poder. Entretanto, paulatinamente a Igreja latino-americana está lendo politicamente os sinais dos tempos. O processo é complexo e os acontecimentos estão a pleno curso. Gustavo destaca que o compromisso dos cristãos está crescendo. Os leigos assumem cada vez mais posições e responsabilidades políticas revolucionárias, com conotação ecumênica. Há um florescimento de movimentos apostólicos leigos. Os sacerdotes e religiosos na América Latina são mais dinâmicos e inquietos: tomam e assumem posições e compromissos no campo político, em prol dos oprimidos e marginalizados. Para alguns essa atitude é perigosa. Diante desta realidade alguns bispos latino-americanos têm denunciado energicamente as injustiças testemunhadas e tomado posições políticas de relevâncias. Todavia, ressalta Gustavo Gutiérrez, na maioria das vezes as posições relativas à transformação social são apresentadas só em textos. As declarações e tentativas de reflexão neste âmbito foram muitas. A mais importante delas é Medelim (1968). Duas são as veredas convergentes apresentadas: a transformação da realidade latino-americana e a busca de novas formas de presença da Igreja nessa realidade. De acordo com Gustavo para uma transformação da realidade latino-americana tal como ela se apresenta é necessário o reconhecimento da solidariedade da Igreja frente à miséria e a exploração do homem vivida na América Latina. Isto requer “educação libertadora”, “renovação social”, “participação ativa dos oprimidos”, em vista uma sociedade mais justa e fraterna, onde se vislumbre atitudes cristãs que favoreçam a organização de base e a consolidação dos direitos. Noutras palavras, exige-se uma nova presença da Igreja na América Latina. A denuncia profética, a evangelização conscientizadora dos oprimidos e a pobreza comprovam fortemente a inadequação das estruturas da Igreja ao mundo em que vive. Surge, pois, a urgência de profunda renovação das atuais estruturas eclesiais. Gutiérrez enfatiza ainda que os sacerdotes devem ter posturas e estilo de vida sacerdotal capaz de expressar a adesão ao projeto transformador e libertador oriundo do Evangelho. São urgentes as mudanças no que tange à participação dos leigos, religiosos, religiosas e sacerdotes nas decisões pastorais da Igreja. É preciso ter uma atitude cada vez mais lúcida e exigente que aponta para uma sociedade qualitativamente distinta e para formas basicamente novas da presença da Igreja nela.
  • Libertação e salvação: Gutiérrez introduz a reflexão sobre libertação e salvação com as seguintes perguntas: “Que realação existe entre salvação e o processo de libertação do ser humano ao longo da história? Ou mais exatamente, o que signfica à luz da Palavra, a luta contra uma sociedade injusta, a criação de um homem e de uma mulher novos? Responder a estas questões significa, para o autor, esclarecer o que se entende por salvação. A salvação, noção central do mistério cristão, é uma realidade intra-histórica, isto é, ela orienta, transforma e leva a história à sua plenitude. Isto nos leva a afirmar com lucidez: não há duas histórias, uma profana e outra sagrada, mas uma só história, um só devir humano assumido irreversívelmente por Cristo, Senhor da história. Segundo a Bíblia há uma forte relação entre criação e salvação. A criação é o primeiro ato salvífico. É obra do redentor. Há uma fusão entre fé na criação e fé salvífica. E mais: a obra criadora é vista e entendida só neste contexto. Gutiérrez destaca também que a criação, fato histórico-salvífico que estrutira a fé em Israel, foi pensada em função do Êxodo. Trata-se de uma libertação política na qual se expressa o amor de Javé por seu povo e se acolhe o dom da libertação total do Egito. A ação redentora de Cristo, a salvação, é concebida como uma  re-criação e pleno cumprimento das promessas divinas. Neste sentido, Paulo fala de “nova criação em Cristo” (2Cor 5,17; Gl 6,15). Criação e salvação tem um sentido cristológico: em Cristo tudo foi criado, tudo foi salvo (Cl 1,15-20). O ser humano é o resumo e o centro da obra criadora e é chamado a prolongá-la por meio do trabalho e da luta contra uma situação de miséria e espoliação, em busca da construção de uma sociedade justa,  a caminho de sua plena realização.  Gustavo Gutiérrez, num segundo momento, fala das promessas escatológicas. Ressalta que somos herdeiros segundo a promessa e que o vigor do pensamento escatológico está na tensão para o que virá, para uma nova ação de Deus, um novo céu e uma nova terra. As promessas escatológicas vão se cumprindo ao longo da história até que ocorra o encontro pleno com o Senhor que porá fim à história, mas já se dá parcialmente na história. Em Cristo “todas as promessas feitas por Deus têm sua realização” (2Cor 1,20). Todas as promessas.
  • “Opção preferencial pelos pobres”: Em nível de intenção e de vontade política eficientes a “opção preferencial pelos pobres”, da parte de toda a sociedade e de modo especial da Igreja, é condição para que haja mudanças sociais positivas neste momento histórico em que a sociedade se encontra. Com efeito, é indispensável que a Igreja, como povo de Deus, e a sociedade no seu todo tomem consciência da multiplicidade e da ambigüidade desta opção. Neste sentido, optar pelos pobres leva inevitavelmente a enfrentar de início duas perguntas: quem é pobre e, mais fundamentalmente, o que é a pobreza? Eis uma realidade clara, gritante, mas um vocábulo confuso e ambíguo. Segundo a conferência de Puebla, toda tradição Bíblica valoriza a pobreza como atitude de sobriedade, de libertação da cobiça e do orgulho e de abertura confiante a Deus. Esse conceito de pobreza é tipicamente evangélico, mas, para que não haja confusão em determinar o termo, a “opção preferencial pelos pobres”, como trata os Documentos de Puebla, Medelim e Santo Domingos, refere-se a pobreza antievagélica, da miséria material e humana, tendo como referência a pobreza evangélica. Em Medellín, a Igreja latina-americana tomou colegialmente consciência da presença e da situação dos pobres e da pobreza, dos marginalizados e da marginalização. O documento final começa com a afirmação: “O episcopado Latino-americano não pode ficar indiferente perante as tremendas injustiças sociais existentes na América Latina que mantêm a maioria dos nossos povos numa dolorosa pobreza e que, em muitíssimos casos, chegam a ser miséria inumana”. Como o adjetivo preferencial o indica, a Igreja (a partir dos Constituições e Documentos), volta-se para os pobres em primeiro lugar sem, todavia, excluir ninguém. Faz dos pobres seus preferidos, mas conservando a largueza sem limites de seu coração, reflexo do coração do Pai que faz chover e brilhar o sol sobre todos ( Mt 5, 45). Sendo assim, na relação preferencial pelos pobres e na missão pastoral da Igreja a partir dos documentos, leva-se em conta o seguinte: cabe a Igreja testemunhar o amor de Deus que envolve todos os homens, sem excluir nem deixar ninguém de fora; embora se trate de um amor severo em suas exigências, dentre as quais destacam-se a justiça da partilha na partilha dos bens, a defesa dos direitos dos pobres e desamparados. Neste sentido, Almeida afirma: “optar pelo pobre é fazer-se solidário com seus interesses e com suas lutas”.
 5. Conclusão
            O tema “Teologia da Solidariedade” é bem sugestivo. João Carlos Almeida no decorrer do livro destaca a importância da comunhão como chave de leitura para a compreensão da solidariedade; a Teologia da Libertação, a partir do compromisso com o pobre, indica no seu núcleo uma Teologia da Solidariedade.
            O estudo nos fez entender que a pobreza é um ato de amor e libertação. Tem um valor redentor. Além do mais, nos aproximam de Deus e nos compromete com os pobres, com aqueles que sofrem miséria e injustiça. Assim, optar pelo pobre é fazer-se solidário com seus interesses e com suas lutas.
            Além de alargar nossa compreensão acerca da Teologia da Libertação e indicar a Teologia da Solidariedade esse estudo nos fez entender o que significa “libertação e solidariedade soteriológicas”; o conceito de salvação, a salvação como comunhão, a solidariedade como linguagem, a solidariedade com os pobres e como método teológico.



Referências
1. almeida, João Carlos. Teologia da Solidariedade: uma abrdagem da obra de Gustavo Gutiérrez. São Paulo, Loyola, 2005.
2.    GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação: perspectivas. São Paulo, Layola, 2000.


[1] Cf. ALMEIDA, João Carlos Almeida. Teologia da Solidariedade: uma abordagem da obra de Gustavo Gutiérrez. São Paulo, 2005.
[2] GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação: perspectivas. São Paulo, Layola, pp. 153-184; 199-240.

sábado, 2 de abril de 2011

Vocação Humana


Pe. Márcio Pinheiro


I – Perguntas Norteadoras: Quem sou eu? De onde vim? O que busco?
Antes de tudo, gostaria de dizer que a existência humana não é obra do acaso. Somos chamados porque somos amados. E amados desde a eternidade. A vocação autentica está inabalavelmente alicerçada no amor de Deus.
A profundidade da relação de cada um de nós com Deus supera os limites da nossa consciência. É uma relação que só um se dá inteiramente ao outro, revelando o mais íntimo de si mesmo. É a gratuidade do amor de Deus (Jo 15,16).
A vida de quem é chamado pertence a Deus. Toda pessoa vocacionada é chamada a fazer a entrega de si mesmo de forma livre, responsável e consciente.
Enfim a Vocação Humana é a primeira resposta do homem ao chamado de Deus, que convida a realizar-se como “gente”. Consiste em viver, pessoal e comunitariamente, a liberdade, a responsabilidade, a consciência, a laboriosidade, a sociabilidade, o serviço, o amor...

Ii – Vocação e Exercício de uma Profissão

         A Profissão implica a dedicação de uma tarefa especializada, de um ofício ou emprego, de caráter permanente ou provisório, em vista do auto-sustento e da prestação de determinado tipo de serviço a alguém ou à comunidade. A profissão é apenas um meio que pode favorecer a realização da vocação.
A Vocação é o chamado para a comunhão com a Trindade e com toda a humanidade. Consiste na escuta interior de um apelo que dá sentido e valor à vida inteira. A vocação se relaciona com “as missões” essenciais da vida, como ser homem ou mulher, formar uma família, dedicar-se as grandes causas. A vocação é a alma da atividade e das tarefas profissionais do homem e representa a dimensão essencialmente religiosa. Noutras palavras: tudo que fazemos temos que fazer com alegria e com amor e fazer bem. A vocação é sempre um chamado pessoal: Deus chama e o homem responde.

Iii – Vocação, Abertura ao Outro e a Deus

         Em Gn 1,26-27 vemos claramente que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. O modelo foi ele mesmo. Então, como Deus é? Deus é Trindade, é comunhão, é amor. Assim sendo, o homem e a mulher, imagem e semelhança D’Ele têm como vocação primeira ser sinal de vida e de comunhão para os demais seres e entre si. O amor é o ponto de unidade, a fonte da vida e de todo forma de relacionamento humano.
         Portanto, a comunhão é a base e fonte da alegria e a realização plena de toda pessoa humana. Neste sentido, o ser humano deve está sempre aberto ao relacionamento com o outro e com Deus para vivenciar a vida de comunhão e de beleza que há na Trindade, nas nossas relações com os outros, com a natureza e com o próprio Deus.
         Quando respondemos com generosidade a vocação a qual somos chamados e a vivenciamos através da obediência aos seus mandamentos, na partilha e na solidariedade fecunda, é que então conseguimos realizar-nos enquanto pessoas. A oração, a meditação, a leitura orante da Bíblia, a caridade aos irmãos e irmãs, a intimidade com o Deus da vida são alguns dos meios disponíveis que temos para que possamos conviver e nos convencermos sempre mais de que é o Espírito de Jesus que nos motiva a viver e a praticar o amor.
         Experimentando tudo isto perceberemos que juntamente com o crescimento da fé cresce também a convicção de que Deus é amor, nos quer bem, nos amou, nos ama e nos amará sempre. Em suma, respondendo sim continuamente ao chamado do Deus da Vida teremos um bom relacionamento conosco mesmo, com as coisas, com as pessoas e com Deus, nosso Criador.
         Isto é caminhar! Busca de algo mais! Busca de ser mais! A gente é o que busca ser! Ninguém nasce pronto! Você é chamado: a ser imagem de Deus; ser reflexo de Deus; ser pessoa aberta e comunicadora do e no amor; a uma missão no mundo e a ser feliz com os outros.

Pense nisso!    Reflita!      Responda!

Eucaristia, fonte de comunhão e modelo de vida fraterna

Pe. Márcio Pinheiro

A Eucaristia é a Aliança da vida divina, da Graça e da Fé. Todo cristão vive da Eucaristia, toda a Igreja vive da Eucaristia. Jesus se faz presente de forma real, pessoal, substancial, em Corpo e Sangue, Alma e Divindade.
Jesus diz: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa com vocês” (Lc 22,15). A Eucaristia é um mistério de fé que exige nossa confiança e credibilidade. Em Jo 6,22-29 Jesus diz claramente: “Eu Sou o pão da Vida... Ele insiste: “minha carne e verdadeiramente comida, meu sangue é verdadeiramente bebida... quem não come da minha carne e não bebe do meu sangue não tem a vida eterna”.
A Eucaristia comporta três dimensões/realidades: Sacrifício da missa, alimento\comunhão e presença amiga no Sacrário. Vejamos:
  1. O Sacrifício da Missa recorda e reatualiza o maior ato de amor;
  2. A Eucaristia torna-se refeição para alimentar nossa Vida Nova e faz a COMUNHÃO nossa com Cristo e com os irmãos.
  3. A Eucaristia é “Presença amiga no Sacrário” à espera de nossas visitas, à espera de nossas conversas;
  4. A Eucaristia é uma celebração comunitária.
É importante lembrar que a missa tem duas mesas: a da Palavra e a do Pão. A Eucaristia é a Redenção exercida, tornando presente, reatualizando o Sacrifício da morte e ressurreição de Jesus. É o Sacrifício da Cruz renovado no altar, pelo qual Jesus oferece ao Pai, por nós, o louvor, a ação de graças, a reparação...
A comunhão, não é um “comer sozinho, mas juntos”: ação comunitária. A finalidade, o motivo profundo da Missa é receber o Cristo na Eucaristia para que a presença d’Ele transforme nossa vida numa vida cada vez mais cristã. A Eucaristia torna-nos outro Cristo, um sinal, um sacramento de Cristo no mundo, proclamando o Plano de Deus, a Fraternidade, a Justiça, e denunciando corajosamente tudo aquilo que se opõe a esse Plano.
Devemos dedicar um tempo de nossa vida para visitá-lo, para conversar, dialogar, bater um “papo”, adorá-lo e ouvi-lo. Enfim, a Eucaristia foi instituída por Jesus justamente para Ele poder estar conosco e reunir-nos ao redor de uma mesa, onde todos, como irmãos, participamos do Corpo e Sangue de Cristo, na sagrada comunhão. Jesus impõe como condição para receber a comunhão: o amor fraterno, o perdão (Mt 5,23-24; 1 Cor 11,18-28). A Eucaristia deve ser vivida no dia a dia, no relacionamento com as pessoas.