terça-feira, 31 de maio de 2011

Sentir-se Especial


Pe. Zezinho, scj

Ligue o rádio e a televisão, demore-se um pouco a ouvir os pregadores das mais diversas igrejas, principalmente os pentecostais e perceberá o apelo ao indivíduo e o acento na expressão “você que”.
Você que está enfermo, você que tem um filho problemático, você que está deprimido, você que tentou todos os caminhos e não encontra solução... É o ato de chamar. O pregador ou a pregadora singuariza o fiel e pede a sua atenção. E vem a oferta: “Deus está lhe oferecendo a salvação e a cura”. A seguir, vem a proposta: “Venha até nós” Supostamente, pela mídia, o pregador já foi até à casa do telespectador ou ouvinte. Agora, haverá um encontro pessoal do indivíduo visitado pela mídia com o pregador no templo. Em algumas pregações, o pregador ou a pregadora lhe oferecerá a catequese daquela igreja. Finalmente virá o convite para a adesão. Ali será o novo lugar do novo crente.
Tudo começa com a singularização do fiel. “Hei, você aí. Deus tem uma salvação para você”. “Deus tem um recado para você”. Numa era de acentuado individualismo singularizar o sofredor, o confuso, o ferido na alma, o perplexo é o começo de uma boa comunicação. O convite pessoal e o acento nas palavras “você que está aí” “venha até nós” funciona como ímã. Que pessoa ferida não vai ao pronto socorro?
Que alma ferida não irá àquele que diz que tem uma solução que vêm do céu? Que alma sedenta não quererá ouvir um homem que lhe diz que Deus fala com ele? O mundo tem enorme necessidade de guias e de profetas. De repente aparece no vídeo e no rádio um irmão que lhe garante que o céu conversa com ele e que há um irmão num templo, curando, perdoando, mostrando a verdade e transformando vidas. Quem não iria? Naquela igreja acontecem lágrimas, milagres, curas, lá alguém anda, alguém joga fora os óculos e as muletas, tudo diante dos seus olhos. Como não ir lá? Na igreja que ele freqüentava havia mais doutrina que milagres.
Aristóteles, já naquele tempo, (* 384 - + 322 a.C.) dizia que os fiéis iam ao culto, não para aprender ou armazenar doutrinas, (mathein) e, sim, para experimentar sentir o mistério, “pathein”. Isto de cabeça e coração em Deus já vem de longe. Há o que dão a Deus os dois e há os que dão apenas um...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mensagem de Páscoa


“Eis o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele fiquemos felizes” (Sl 118,24)


Caríssimos internautas,

Ser cristão é ter convicção de que Deus quer o nosso bem, torce por nós, vibra com nossas vitórias sobre o mal. A Páscoa é exatamente isto: a passagem do mal ao bem, da morte à vida, do comodismo à empolgação, do medo à coragem, da tristeza à alegria, enfim, é o começo de uma vida nova que brota do encontro com o Senhor Ressuscitado.
Celebrar a páscoa é, portanto, comprometer-se com o Projeto, com a Vontade de Deus. É dedicar-se dia a dia na luta e no esforço contra as estruturas de morte. É deixar-se conduzir pelos desígnios e pelo Espírito de Deus. Noutras palavras, é deixar-se transformar por Deus em todos os sentidos.
A vitória da vida sobre a morte, expressa na Ressurreição de Jesus, recorda-nos que devemos, dentre outras coisas:
1)      Ir ao encontro das pessoas sedentas de Deus, de paz e apresentá-las Jesus Ressuscitado;
2)     Ver a vitória sobre a dor de Jesus e de tantos irmãos e irmãs sofredores e confiar na presença do Ressuscitado;
3)      Ser sinais de paz e do amor de Deus aos que vivem desunidos e ressentidos pelo ódio;
4)     Partilhar a fé na Ressurreição no nosso dia a dia, no desenrolar de nossas ações cotidianas;
5)     Perdoar para retornar o rumo, a caminhada, a alegria de viver e sentir-se feliz, em paz com Deus, com as pessoas, conosco mesmos;
6)      Ser sinais de esperança e de vida para todos, tendo como alicerce a fé em Jesus Cristo, demonstrando através dos atos nossa gratidão a Deus Pai;
7)     Ter consciência de que não somos infalíveis, sem porém deixar de confiar em Deus, em sua misericórdia, em seu perdão e bondade e recomeçar sempre.

Enfim, celebrando a Páscoa de Jesus queremos assumir corajosamente nossa fé e nos comprometermos mais ainda com Deus, com a Comunidade e com a construção do Reino de Deus. Feliz Páscoa para todos!

Com orações e bênçãos,

Pe. Márcio Pinheiro de Almeida

O Sacramento da Reconciliação

Pe. Márcio Pinheiro

  1. Deus Pai, em sua infinita misericórdia (2 Cor 5,18ss; Ef 2,4; Cl 1,20), enviou seu Filho ao mundo para salvá-lo (Jo 8,34-36) e para chamar a humanidade à sua luz (1 Pd 2,9). No mundo, desde o início, Jesus Cristo convidou-nos à penitência dizendo: “Fazei penitencia e crede no Evangelho” (Mc 1,4);
  2. Jesus Cristo não só exortou à penitencia (Cf. Lc 15), mas também acolheu e reconciliou os pecadores com o Pai (Lc 5,20. 27-32; 7,48). Todos os seus atos são expressões de seu amor eterno em favor dos homens: curou os enfermos para manifestar que tem poder de perdoar pecados (Mt 26,28) e, por fim, depois da Ressurreição, enviou o Espírito Santo sobre os apóstolos a fim de possuírem o poder de perdoar ou reter os pecados (Jo 20, 19-23) e receberem a missão pregar a penitencia e o perdão dos pecados a todas as nações (Lc 24,47);
  3. O próprio Jesus Cristo deu a ordem: “tudo o que ligares na terá será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Por isso, no dia de Pentecostes, Pedro pregou a remissão dos pecados por meio do Batismo (At 2,38; 3,19.26; 17,30);
  4. A vitória sobre o pecado nós a experimentamos primeiro no Batismo (Rm 6,4-10), depois na Eucaristia, o Corpo e o Sangue derramado para remissão dos pecados. Nela Jesus Cristo está presente como “vítima de nossa reconciliação” para que sejamos reunidos num só corpo (Cf. Oração Eucarística II). Além do Batismo e da Eucaristia, como vimos acima, nosso Senhor Jesus Cristo concedeu o poder de perdoar os pecados aos apóstolos e a seus sucessores, instituindo o Sacramento da Penitência na sua Igreja. Assim, “a Igreja, além da água do Batismo, possui as lágrimas da Penitência” (Santo Ambrósio);
  5. “A Igreja, santa e sempre necessitada de purificação, busca sem cessar a penitência e a renovação” (LG 8) para que seus membros possam atingir o ideal proposto por seu fundador: “sede santos, porque sou santo” (Cf. Mt 5,48; 1 Pd 1,14ss);
  6. Participando da paixão de Cristo pelos seus sofrimentos (Cf. 1Pd 4,13) e convertendo-se cada vez mais ao Evangelho de Cristo pela prática das obras de caridade e de misericórdia (Cf. 1Pd 4,8) o povo de Deus prática e realiza esta contínua penitência, sobretudo através da Liturgia da Igreja;
  7. Pelo Sacramento da Penitência os fiéis obtêm o perdão e a misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja, que eles feriram pelo pecado e que colabora para sua conversão com a caridade, o exemplo e as orações (Cf. LG 11);
  8. O fim último da penitência é o amor intenso e a entrega total a Deus (Cf. LG 11). Assim, por meio do Sacramento da Penitência, voltamos ao Pai que “nos amou primeiro” (Cf. 1 Jo 4,19), ao Cristo que se entregou por nós (Cf. Gl 2,20; Ef 5,25) e ao Espírito Santo que nos foi dado em Pentecostes (Cf Tt 3,6);
  9. Há pessoas que deixam de lado este Sacramento e afirmam, às vezes, que confessam “somente com Deus”. Quem assim procede desconhece a união de Cristo Cabeça com seu Corpo, a Igreja (Cf. Ef 1,22-23), na qual Cristo quer criar a Humanidade Nova e reconciliada em um só Corpo por meio de sua Cruz. Ignoram também o que diz a Palavra de Deus: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para que sejais salvos” (Cf. Tg 5,16). Na prática, estas pessoas consideram Cristo separado de sua Igreja. No entanto, está dito “que ninguém separe o que Deus uniu” (Mt 19,6);
  10. Somente Deus pode converter o coração humano, só o Senhor pode tornar “de carne” um coração “de pedra” (Cf. Ex 11,10). Só Ele, que conhece “os segredos do coração” (Sl 24/23,4) pode criar no ser humano pecador “um coração puro” (Sl 50/51,10) e curar os de coração ferido, machucado, “quebrantado”: “aos corações partidos ele cura, vai suas feridas medicando” (Sl 146,3).
  11. A Igreja deve dar testemunho da misericórdia de Deus revelada em Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, deve professar e proclamar a misericórdia divina em toda verdade, tal como foi transmitida pela Revelação[1].



JOÃO PAULO II. A Misericórdia Divina. São Paulo: Paulinas, 1980.
Compêndio Vaticano II. São Paulo: Vozes, 1980.




[1] Cf. A misericórdia de Deus na missão da Igreja in João Paulo II, A Misericórdia de Deus. São Paulo: Paulinas, 1980, pp. 57-70.

A Revelação Divina


Pe. Márcio Pinheiro
1. A Divina Revelação
1.1. Elementos básicos da Revelação Divina[1]
O cristianismo não é uma religião que simplesmente transmite verdades e normas de conduta, mas é, antes de tudo, uma religião que vive a experiência histórica da manifestação pessoal de Deus. Precisamente por isso, a revelação é um dos distintivos característicos de nossa fé. Deus se revelou, se manifestou em nossa história, falou ao homem por meio de fatos e palavras, quis mostrar-nos a realidade de seu ser e de seu desígnio amoroso para conosco. Deus se nos revela e ao mesmo tempo nos convida a responder com a fé. É ele quem inicia o diálogo interpessoal que interpela o mais profundo de nossa existência.
Etimologicamente, a palavra revelação vem dos termos latinos “revelare”, “revelatio”, que significam remoção de um véu que esconde alguma coisa de nossa vista. No contexto religioso, indica a manifestação de Deus e de seus decretos, ocultos à razão humana, secretos e íntimos. Como atividade pessoal de Deus e de sua livre iniciativa, a revelação é um gesto de amor por meio do qual o Senhor vem ao encontro dos homens e entra em contato conosco para dialogar e nos chamar a obediência da fé, tendo em vista uma comunhão de vida. A revelação se apresenta, antes de tudo, como a forma histórica da salvação; ela acontece como história salvífica. A história da salvação se realiza e adquire um caráter peculiar precisamente porque nela acontece a revelação.
Ao falar da revelação, devemos levar em conta que se trata de uma manifestação contínua de Deus aos homens que vai se realizando de acordo com uma maravilhosa pedagogia, conforme é próprio de um Deus pessoal que quer se comunicar com o homem. A criação do homem já foi o primeiro passo dentro da própria revelação. O homem, com efeito, foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26), com capacidade de se relacionar com um ser pessoal. A máxima participação e manifestação de Deus foi realizada de uma maneira pessoal em seu Filho Jesus Cristo; nEle Deus se revelou a Si mesmo e realizou definitivamente o encontro salvífico entre Deus e o homem. Jesus é, então, a plenitude e o centro da revelação.

1.2. A Teologia da Graça[2]
            Antes de tudo devemos nos perguntar: Mas, o que é a graça[3]? Para entendê-lo vamos começar da linguagem corrente. Que significa, para nós, a palavra graça? O significado mais comum, acessível a todos é o de beleza, fascinação, amabilidade, indulgência, perdão das penas. Na linguagem bíblica, especialmente no Antigo Testamento encontramos a palavra graça com vários adjetivos: misericórdia, benefício (Ex 33,12.19; 34,6), qualidade ou efeito do favor divino que torna a pessoa bela, encantadora, amável (Cf. Sl 45,3; Pr 5,19; Ez 16,18ss). No Novo Testamento temos uma novidade: a graça de Deus não mais é um dom, mas o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus, a graça encarnada presente na história e na vida de cada cristão, de cada discípulo. Assim podemos falar de “graça de Cristo” (1 Cor 1,4), “graça de Deus” (At 14,3; 20,32; 1Cor 15,10; 2Cor 6,1; 12,9; ; Ef 2,8; 2Tm 1,6; Tt 2,11).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica a graça é um favor, um socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tornar-nos filhos de Deus (Jo 1,12-18), filhos adotivos (Rm 8,14-17), participantes da natureza divina (2Pd 1,3-4), da Vida Eterna (Jo 17,3). A graça é uma participação na vida divina; introduz-nos na intimidade da vida trinitária. Pelo batismo, o cristão tem parte na graça de Cristo, cabeça de seu corpo. Como “filho adotivo”, pode doravante chamar a Deus de “Pai”, em união com o Filho único. Recebe a vida do Espírito que nele infunde a caridade e forma a Igreja.
            A graça de Cristo é um dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santifica-la; trata-se da graça santificante ou edificante, recebida no Batismo. Em nós ela é a fonte da obra santificadora (Jo 4,17; 7,38-39). A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e a tornar capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais que designam as intenções divinas, quer na origem da vocação, quer no decorrer da obra de santificação.
            A preparação do homem para acolher a graça já é uma obra da graça. A graça é antes de tudo um dom do Espírito que nos justifica e nos santifica. A graça compreende os dons que o Espírito nos concede para nos associar à sua obra, para nos tornar capazes de colaborar com a salvação dos outros e com o crescimento do corpo de Cristo, a Igreja. São as graças sacramentais, dons próprios dos diferentes sacramentos. São, além disso, as graças especiais, designadas também de “carismas”, segundo a palavra grega empregada por São Paulo, e que significa favor, dom gratuito, benefício (LG 12). Acham-se a serviço da caridade que edifica a Igreja (1Cor 12). Entre as graças especiais, convém mencionar as graças de estado que acompanham o exercício das responsabilidades da vida cristã e dos ministérios no seio da Igreja.
            Sendo de ordem sobrenatural, a graça escapa à nossa experiência e só pode ser conhecida pela fé. Não podemos portanto nos basear em nossos sentimentos ou em nossas obras para daí deduzir que estamos justificados e salvos. No entanto, segundo a palavra do Senhor: “É pelos seus frutos que conhecereis” (Mt 7,20), a consideração dos benefícios de Deus em nossa vida e na dos santos nos oferece uma garantia de que a graça está operando em nós e nos incita a uma fé sempre maior e a uma atitude de pobreza confiante.

1.3. A Virgem Maria na vida do cristão e da Igreja[4]
            Maria é uma das figuras extraordinariamente mais conhecida por todos nós, devido está intimamente ligada a vida de Jesus e a nossa, enquanto discípulos de Jesus Cristo, porém, no Novo Testamento não se fala com freqüência dela. Entretanto, se prestarmos atenção, perceberemos que ela não está ausente de nenhum dos três momentos constitutivos do mistério cristão: Encarnação (porque aconteceu nela), Mistério Pascal (porque esta escrito: “junto da cruz de Jesus estava Maria sua mãe” {Jo 19,25}) e Pentecostes (porque está escrito que os apóstolos, “unânimes, perseveravam na oração com Maria, a mãe de Jesus” {At 1,14}).
            Só podemos descobrir através do olhar da fé, tendo em mente o conjunto da Revelação, as razões misteriosas pelas quais Deus, no seu desígnio salvífico, quis que seu Filho nascesse de uma virgem. Estas razões tocam tanto a pessoas e a missão redentora de Cristo quanto o acolhimento desta missão por Maria em favor de todos os homens. Maria é ao mesmo tempo Virgem e Mãe por ser a figura e a mais perfeita realização da Igreja (LG 63). A Igreja... trona-se também ela Mãe. Pois pela pregação e pelo Batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. Ela é também a virgem íntegra e puramente guarda a palavra dada a seu Esposo (LG 64).
            Maria é a proclamação viva, concreta, que a graça de Deus é realidade primordial no relacionamento entre Deus e as criaturas. Maria, e junto com ela qualquer outra criatura, é cheia de graça num sentido passivo, como aquela que é preenchida de graça. Assim Maria é uma espécie de ícone vivo desta misteriosa graça de Deus. Ela lembra e proclama à Igreja em primeiro lugar: tudo é graça.
            Podemos afirmar que Maria é uma carta escrita não com tinta, mas com o Espírito Santo, não em tábuas de pedras como, a antiga lei, nem em pergaminho ou papiro, mas em carne que é o seu coração de crente e de mãe. A Tradição recolheu este pensamento, falando de Maria como de “uma tabuazinha encerrada” sobre a qual Deus pôde escrever livremente tudo o que quis (Orígenes); como de “um livro grande e novo” no qual o Espírito Santo escreveu (Santo Epifânio), ou como “o volume, no qual o Pai escreveu o seu Verbo” (Liturgia bizantina).
            Enfim, o que a fé católica crê acerca de Maria funda-se no que ela crê acerca de Cristo, mas o que a fé ensina sobre Maria ilumina, por sua vez, a sua fé em Cristo.                 

1.4. A Teologia e espiritualidade Paulina na vida do Pregador e na sua pregação[5]
            As cartas de Paulo expressam e defendem com vigor a concepção segundo a qual o impulso e a realidade da salvação e da revelação se entrelaçam (cf. 2Cor 2,14-15). Essa convicção parte de sua experiência pessoal, já que ele está consciente de que seu encontro com Cristo ressuscitado no caminho de Damasco tinha constituído um movimento inesperado para uma nova vida (Gl 1,11ss) e que o iniciou numa vida em Cristo. Paulo é o intérprete fiel do movimento que identifica o último tempo esperado e o tempo de Cristo (cf. Gl 4,4ss) e por ele cria em torno de Jesus Cristo uma verdadeira teologia da revelação. Para o apóstolo, com efeito, a revelação é o progressivo conhecimento do mistério escondido ao longo dos séculos (1 Cor 2,6-9) que agora é anunciado, revelado (Rm 16,25-27) e manifestado em Cristo (Ef 1,9), o qual por sua morte e ressurreição, se constitui no centro de uma nova economia e no único princípio de salvação (Ef 1,7; 2,1-10). Esse mistério foi dado a conhecer às nações pelo Evangelho e pela pregação, para levar todos à fé e à obediência (Rm 16,26) de Cristo, já que, definitivamente o mistério é Cristo (16,25; Cl 1,26-27; 1Tm 3,16).
            De acordo com o conteúdo de suas cartas, percebe-se que Paulo tem clara convicção de que em Cristo se encontra a plena realização histórica de todas as promessas divinas (cf. Gl 4,4; Ef 1,10), de modo que, no Filho, Deus nos elegeu, nos fez filhos adotivos (Ef 1,4-6), redimindo-nos mediante o sacrifício da cruz e conseguindo a remissão dos pecados.

1.5. A Teologia e espiritualidade Joanina na vida do Pregador e na sua pregação[6]
            Nos Sinóticos, nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas de são Paulo, a palavra de Deus é a designação que se dá à mensagem evangélica. A grande novidade de João é o Logos. O Cristo é a Palavra eterna, subsistente, pessoal; realiza-se a revelação porque essa Palavra se fez carne para nos falar do Pai (cf. Prólogo).
            o Evangelho de João se mostra como o evangelho da revelação por excelência, no qual Jesus vai manifestando os diferentes aspectos de sua pessoa e de sua obra: “Eu sou” o bom pastor (10,14), o verdadeiro pão (6,48), a luz do mundo (8,12), o caminho, a verdade e a vida (14,6), a ressurreição (11,26), até culminar com o “Eu sou” absoluto (8,58) que evoca a manifestação divina do Êxodo (cf. Ex 3,14). O prólogo constitui como que um resumo da história das manifestações de Deus através de sua Palavra. Cristo é o vértice da revelação, pois se “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Único”, não podemos esperar mais. Nele se tem a comunicação definitiva da salvação graças à qual não perecemos, mas temos a vida eterna (3,16), porque experimentamos a grandeza de seu amor e adquirimos a possibilidade de compartilhar da vida eterna como filhos “renascidos” (1,12).
            Para descrever a revelação que acontece em Jesus Cristo, João o apresenta como o Filho que revela o Pai (1,18), porque o conhece (7,29), e como testemunha fiel (Ap 1,5; 3,14) que fala a verdade que ouviu de Deus (Jo 8,40) e cuja missão é dar testemunho da verdade (18,37), ou seja, do que Ele mesmo é (3,16; 17,3) porque foi enviado pelo Pai (3,24; 17,8). A palavra do Cristo coloca o homem ante uma opção decisiva: a favor ou contra a vida. Jesus não veio para julgar (3,17; 12,47), mas para salvar (3,16-21) e para dar a vida (10,10). Assim, quem acolhe Cristo e acredita em sua Palavra está salvo e torna-se uma nova criatura (3,3), um filho de Deus (1,12), vivificado, eluminado, santificado, chamado à vida eterna (3,16), à visão (1Jo 3,1-2).

Bibliografia Consultada
1.      ARENAS, Octavio Ruiz. Jesus, Epifania do amor do Pai. São Paulo: Loyola, 2001.
2.      CANTALAMESSA, Raniero. Maria um espelho para a Igreja. Aparecida, SP: Santuário, 1992.
3.      Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1992.
4.      GONZÁLEZ, Carlos Ignácio. Maria evangelizada e evangelizadora. São Paulo: Loyola, 1990.
5.      LATOURELLE, René. A Teologia da Revelação. São Paulo: Paulinas, 1985.
6.      VÁRIOS AUTORES. Jesus Cristo. São Paulo: Cidade Nova, 1983.
7.      Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação.


[1] Cf. ARENAS, Octavio Ruiz. Jesus, Epifania do amor do Pai. São Paulo: Loyola, 2001; LATOURELLE, René. A Teologia da Revelação. São Paulo: Paulinas, 1985.
[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1992, nn. 1996-2005.
[3] Cf. CANTALAMESSA, Raniero. Maria um espelho para a Igreja. Aparecida, SP: Santuário, 1992, pp. 14-17.
[4] Cf. GONZÁLEZ, Carlos Ignácio. Maria evangelizada e evangelizadora. São Paulo: Loyola, 1990; Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1992, nn.487-511; CANTALAMESSA, Raniero. Maria um espelho para a Igreja. Aparecida, SP: Santuário, 1992.
[5] Cf. ARENAS, Octavio Ruiz. Jesus, Epifania do amor do Pai. São Paulo: Loyola, 2001, p. 107.
[6] Idem., pp. 106-107.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

As Virtudes


Pe. Márcio Pinheiro


Catecismo da igreja católica: As Virtudes. Petrópolis, Rio de Janeiro: Loyola e Vozes, 1992, pp. 485-494.


AS VIRTUDES
            A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons, mas dar o melhor de si. Com todas as suas forças sensíveis e espirituais, a pessoa virtuosa tente ao bem, persegue-o e escolhe-o na prática.
            "O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus". (Gregório de Nissa)

AS VIRTUDES HUMANAS
            As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé.
            As virtudes morais são adquiridas humanamente. Dispõe todas as forças do ser humano para comungar do amor divino.

DISTINÇÃO DAS VIRTUDES CARDEAIS
            Quatro são as virtudes que têm o papel de "dobradiças", por isso são chamadas cardeais. Estas virtudes são: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.
            A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir em qualquer circunstância nosso verdadeiro bem e escolher os meios adequados a realizá-lo. Segundo Santo Tomás a prudência é a regra certa da ação.
            A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se se "virtude de religião". Para com os homens, ela dispõe a respeitar os direitos de cada um e a estabelecer nas relações humanas harmonia que promove harmonia em prol do bem comum.
            A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela possibilita vencer o medo, inclusive da morte, de suportar a provação e as perseguições.
            A temperança é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso vos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade.

AS VIRTUDES E A GRAÇA
            As virtudes humanas adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma perseverança sempre retomada com esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Cada um deve sempre pedir esta graça de luz e de fortaleza, recorrer aos sacramentos e cooperar com o Espírito Santo, seguir seus apelos de amar o bem e evitar o mal.

As virtudes teologais
            As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para participar da natureza divina. Elas fundamentam, animam e caracterizam o agir do cristão. As virtudes teologais são três: Fé, Esperança e Caridade.

A FÉ
            A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo que nos disse  e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe crer, porque ele é a própria verdade. É por causa da fé que o fiel procura conhecer e fazer a vontade de Deus. A fé viva "age pela caridade" (Gl 5,6).

A ESPERANÇA
            A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, depositando nossa confiança nas promessa de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. A virtude da esperança assume as esperanças que inspiram as atividades humanas; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade.

A CARIDADE
            A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. A caridade tem como frutos a alegria, a paz e a misericórdia; exige a beneficência e a correção fraterna; é benevolência; suscita a reciprocidade; é desinteressada e liberal; é amizade e comunhão. A finalidade de todas as nossas obras é o amor.

OS DONS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO
            A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito. Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo modela em nós como primícias da glória eterna. A Tradição da Igreja enumera doze: "caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade" (Gl 5,22-23).

A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Permite à pessoa não só praticar atos bons,  mas dar o melhor de si. Com toda a sua força sensível e espiritual, a pessoa virtuosa tende ao bem, persegue-o e escolhe-o na prática.
            Já disse São Gregório de Nissa: O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus.

I. AS VIRTUDES HUMANAS
            As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo  a razão e a fé.
            As virtudes morais são adquiridas humanamente. São os frutos e os germes de atos moralmente bons...

Distinção das Virtudes Cardeais
Quatro virtudes têm um papel de "dobradiça". Por isso são chamadas cardeais e todas as outras se agrupam em torno delas. São: a prudência, a justiça, a fortaleza, e a temperança...
            Prudência: é a virtude que dispões a razão prática a discernir em qualquer circunstancia nosso verdadeiro bem e a escolher os meios mais adequados a realizá-lo.
            Justiça: é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.
            Fortaleza: é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem.
            Temperança: é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no curso dos bens criado.

As Virtudes e a Graça
            As virtudes humanas adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma perseverança sempre retomada com esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com ao auxilio de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz em pratica-lo.

II. AS VIRTUDES TEOLOGAIS
            As virtudes humanas se fundam nas virtudes teologais que adaptam as faculdades do homem para participar da natureza divina. Pois as virtudes teologais se referem diretamente a Deus.
            As virtudes teologais fundamentais (...) são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. Há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade.
            A fé: é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos Propõe crer porque ele é a própria verdade.
            O serviço e o testemunho da fé são requisitos da salvação.
            A esperança: é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o reino dos céu e a vida eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças próprias, mas no socorro da graça do Espírito Santo.
            A virtude da graça responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem...
            A esperança cristã se manifesta desde o início da pregação de Jesus no anúncio das bem-aventuranças.
            A caridade: é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor a Deus.
            Fruto do Espírito e plenitude da lei, a caridade guarda os mandamentos e de seu Cristo: "permanecei em meu amor. se observares os meus mandamentos, permanecereis no meu amor.
            A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais: "permanecem fé, esperança e caridade, estas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade" (1cor 13, 13).
            A caridade assegura e purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a a perfeição sobrenatural do amor divino.

III. OS DONS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO
            A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir os impulsos do mesmo Espírito.
            Os sete dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
            Os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo modela em nós como primícias da glória eterna. A tradição da Igreja enumera doze: "caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade" (Gl 5, 22-23 vulg).

Via-Sacra


Pe. Márcio Pinheiro

“Deus amou tanto o mundo que nos deu seu Filho único para que tivéssemos vida” (Jo 3,16)


Na Sexta-feita Santa a Igreja está com Cristo na paixão. Vivemos neste dia a espiritualidade da Cruz vitoriosa, a memória da vitória suprema de Cristo sobre o pecado e a morte, garantia indefectível da passagem definitiva com Cristo para a vida nova e eterna do Reino.

Contemplemos, durante esta Via Sacra, no silêncio do nosso coração, o mistério de Deus que no filho morre livre e consciente, para nossa salvação. Meditemos também sobre amor incondicional de Deus Pai “que tanto amou o mundo que nos deu seu filho único para que nele tivéssemos vida” (Jo 3,16); “... Cristo nos amou e se entregou por nós a Deus...” (Ef 5, 2).

Da contemplação da doação da vida de um Deus-homem que se fez o Cordeiro imolado e se entregou como oferenda perfeita ao Pai no Espírito, para libertação e perfeita reconciliação da humanidade com o seu Pai e dos homens entre si... nos imbuímos de uma profunda solidariedade da paixão de Cristo que continua na paixão do povo, nos cristos flagelados, nos calvários onde o povo de Deus continua sofrendo, suspirando por libertação, redenção e vida plena. Acompanhemos com fé e devoção os atos de Jesus Cristo rumo a ressurreição, meditando em nossos corações o infinito e eterno amor de Deus por nós e nos deixemos conduzir pelo Espírito divino.