A
intenção no coração de Deus ao ter trazido este universo à existência era que,
ao final, toda a criação pudesse apresentar a glória e a supremacia de Seu
Filho, Jesus Cristo. Isto nos afirma a carta de São Paulo neste pequeno
fragmento “nele tudo subsiste” (Cl 1,17 ). Ele diz muito claramente que, se não
fosse o Senhor Jesus Cristo, o universo inteiro se desintegraria,
desmembrar-se-ia; ele estaria sem seu fator unificador; ele cessaria de ter uma
razão para ser mantido como uma completa e concreta unidade. Tire-o fora e a
criação perde seu propósito e seu objeto, e não precisa mais ir adiante.
“Cristo é tudo, e em todos” (Cl 3,11) era o pensamento – o pensamento dominante
– na mente de Deus durante a criação do universo.
Percebemos esta verdade
claramente exposta na antífona da solenidade de Cristo Rei: “O Cordeiro que
foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a
honra. A ele a glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12;
1,6). Isto é proclamado ao final de cada ano litúrgico para nos lembrar que
Jesus Cristo é o Rei de nossas vidas, Rei da história, Rei do cosmo, Rei do
universo. A Igreja toda canta, na festa de Cristo Rei, na sua oração: “Cristo
Rei, sois dos séculos Príncipe,/ Soberano e Senhor das nações!/ Ó Juiz, só a
vós é devido/ julgar mentes, julgar corações”. O texto do Apocalipse citado
acima dá o sentido da realeza de Jesus: “ele é o Cordeiro que foi imolado”. É
Rei não porque é prepotente, não porque manda em tudo, até suprimir nossa
liberdade e nossa consciência. É Rei porque nos ama, Rei porque se fez um de
nós, Rei porque por nós sofreu, morreu e ressuscitou, Rei porque nos dá a vida.
Ele é aquele “Filho do Homem” apresentado no livro de Daniel: “Foram-lhe
dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam:
seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que
não se dissolverá” (Dn 7, 9-14). Com
efeito, o reinado de Cristo não tem as características dos reinados do mundo.
Ele é Rei não porque se distancia de nós, mas precisamente
porque se fez “Filho do homem”, solidário conosco em tudo. Ele
experimentou nossas pobrezas e limitações; ele caminhou pelas nossas estradas,
derramou o nosso suor, angustiou-se com nossas angústias e experimentou tantos
dos nossos medos (Fl 2,6-11;). Ele morreu como nós, de morte humana, tão igual
à nossa. Ele reina pela solidariedade. Ele é Rei porque nos
serviu: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Serviu com toda a sua existência,
serviu dando sempre e em tudo a vida por nós, por amor de nós. Ele reina
pelo amor. Ele é Rei porque tudo foi criado pelo Pai “através
dele e para ele” (Cl 1,15-16); tudo caminha para ele e, nele, tudo
aparecerá na sua verdade: “Quem é da verdade, ouve a minha voz”. É nele
que o mundo será julgado. Ele é Rei porque é o único que pode garantir
nossa vida; pode fazer-nos felizes agora e pode nos dar a vitória sobre a morte
por toda a eternidade: “Jesus Cristo é a testemunha fiel e verdadeira, o
primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra” (cf.
Ap 3,14; 1,17-18; 2,8). Ele reina pela vida. Sim, Jesus é Rei: A
marca e o critério da realeza de Cristo é e será sempre, a cruz!
Hoje, assistimos, impressionados, a paganização do
mundo, e perguntamos: onde está a realeza do Cristo? – Onde sempre esteve: na
cruz: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os
meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu
reino não é daqui”. O Reino de Jesus não é segundo o modelo deste mundo,
não se impõe por guardas, pela força, pelas armas: meu Reino não é daqui! É um
Reino que vem do mundo do amor e da misericórdia de Deus, não das loucuras
megalomaníacas dos seres humanos. E, no entanto, o Reino está no mundo:
“Cumpriu-se o tempo; o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15); “Se é pelo dedo
de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou para vós”
(Lc 11,20). O Reino que Jesus trouxe deve expandir-se no mundo! Onde ele está?
Onde estiverem o amor, a verdade, a piedade, a justiça, a solidariedade, a paz.
O Reino do Cristo deve penetrar todos os âmbitos de nossa existência: a
economia, as relações comerciais, os mercados financeiros, as relações entre pessoas
e povos, nossa vida afetiva, nossa moral pessoal e comunitária.
Tudo deve convergir para Jesus Cristo: o tempo, a
história, o cosmo... tudo corre para Jesus: ele é “o Alfa e o Ômega, o A e o Z,
o Primeiro e o Último” (Ap 1,8; 21,6; 22,13) “Jesus Cristo é a Testemunha fiel,
o Primogênito dentre os mortos, o Soberano dos reis da terra”. A ele a
glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário