quinta-feira, 23 de maio de 2013

AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA: A IMPORTÂNCIA E ENSINAMENTOS



introdução[1]
Apesar das restrições que os protestantes fazem ao culto de Nossa Senhora, os católicos se sentem honrados e privilegiados por terem com Mãe a mesma mãe do Salvador. E quem nos deu Mãe tão especial foi nada menos que o próprio Jesus: “Eis aí teu filho...”(Jo 19,26). Este Ano Mariano quer manifestar nosso amor e nossa gratidão a Deus por ter criado uma mulher tão maravilhosa e por tê-la dada como nossa advogada e intercessora. Queremos também reavivar nossa devoção a Maria recorrendo à conversão como ela tantas vezes nos pediu. Nossos Círios e nossas Festas patronais dever se tornar um estímulo sempre mais forte para que esta Mãe se sinta sempre em casa nos nossos corações, nas nossas paróquias e na nossa diocese.
Não é somente Nossa Senhora que marca presença nas aparições. Jesus também apareceu. A mais famosa aparição de Jesus foi em 1673, em Paray-le-Monial, na França, a Santa Margarida Maria Alacoque. E com a permissão de Deus, qualquer santo ou demônio poderia aparecer.
Nesta palestra faremos menção de algumas aparições de Nossa Senhora (Guadalupe {1531}, La Salette {1846}, Lourdes {1858} e Fátima{1917}). Delas salientaremos os pontos mais importantes lembrados por Nossa Senhora a fim de que possamos ainda hoje pôr em prática os conselhos por ela transmitidos aos privilegiados videntes.

Valutação das aparições por parte da Igreja
Parece exagerado, mas não é: as aparições de Nossa Senhora podem representar um sério perigo para a fé de nossos fiéis. De fato poderiam ser consideradas manifestações de Nossa Senhora alucinações que alguém, de mente fraca, poderia ter. Podem existir charlatães que para tirar proveito inventam aparições que nunca existiram. Outros, para aparecer, se fazem de videntes e transmissores de mensagens celestiais. Outros ainda, sugestionados por outras aparições, revivem em si o que aconteceu com outros. Não é preciso recorrer sempre a má fé para julgar estes fatos e estas pessoas. Tirando os aproveitadores conscientes, podem existir pessoas que de verdade pensam que estão vendo alguma coisa e externam estas visões identificando-as normalmente com Nossa Senhora. Mas, ainda assim, não podemos correr o perigo de crer em imaginações ou fantasmas. Precisamos de critérios sérios para avaliar as aparições a fim de sustentar nossa crença e não banalizá-la. O costume da Igreja a este respeito é antigo e tem suas raízes nos critérios ditados pelo papa Bento XIV desde o século XVIII. Quando é preciso analisar uma presumida aparição precisa:
1.     Realizar o exame completo dos fatos;
2.     Verificar se as mensagens são coerentes com os ensinamentos da Igreja;
3.     Constatar a transparência dos acontecimentos de forma que a aparição se torna um serviço à Igreja e não pode causar protagonismo dos videntes ou origem de ritos bizarros;
4.     Verificar se tem sinais pelos quais Deus confirma sua presença;
5.     Constatar se os frutos verdadeiros são os da conversão e da volta a Deus;
6.     Que o bispo do lugar se pronuncie sobre a naturalidade ou não dos fatos.
Com isso é claro que a Igreja, apesar de admitir que as aparições possam existir, antes de confirmar tal fenômeno quer ver claro nos acontecimentos. Só depois de ter esgotado todas as outras possibilidades que poderiam provocar aparições é que então, na presença de milagres, ela reconhece a autenticidade das aparições.

Importância de Maria na vida da igreja
Desde a entrega da humanidade a Maria por parte de Jesus na cruz, Maria ganhou um lugar privilegiado no coração da Igreja e no coração dos cristãos. Todos os santos são venerados na Igreja. Mas só Maria recebe uma veneração especial (hiperdulia) que se repete várias vezes ao ano, sobretudo na ocasião dos fatos mais salientes da nossa salvação. Bem além de um sentimentalismo estéril, existe na Igreja um sentimento de gratidão e verdadeiro amor pela Virgem Mãe de Deus. O que importa é Jesus, o seu Salvador. Mas Jesus, gerado em Maria por obra do Espírito Santo, foi por ela dado ao mundo. Amando seu Filho Jesus, Maria amou a Igreja toda e de todos os tempos, que em Jesus nasceria e viveria. Antes, com a entrega de João como filho, todos fomos confiados e recebidos como filhos por esta Mãe incomparável. Sentimos sua presença nas festas que a ela tributamos e a honramos como Mãe e Rainha nos privilégios com que o Pai se dignou enriquecê-la. Pedimos sua proteção sem complicações, com naturalidade, pois nos consideramos verdadeiros filhos e filhas dela. Em sua honra erguemos igrejas e templos belíssimos, ricos de arte, de história e de amor. E ela nos leva a sério, obtendo-nos graças sobre graças e às vezes aparecendo entre nós e falando-nos.
Mas tudo isso pode acontecer pela devoção sincera que o povo tributa à Virgem Maria e pela intercessão constante que ela exerce lá no céu a nosso favor. Não precisaria que ela aparecesse para nós. Quais são, então, o valor e a necessidade das aparições? O Pe. Estevão Flores explicou muito bem ao escrever “a importância das aparições da Virgem não consiste no fato que iluminam ou chamam a atenção sobre pontos importantes do Evangelho. Ela consiste mais num grito de alarme para uma comunidade cristã que poderia adormecer nas atitudes costumeiras da vida... Elas preenchem vazios e, mediante livros que se escrevem para explicá-las, obrigam estudiosos a aprofundá-las... e animam os fiéis a se inteirarem sobre a vida da Igreja”.

Mensagens que podemos aprender das aparições de Nossa Senhora (Guadalupe {1531}, La Salette {1846}, Lourdes {1858} e Fátima{1917}):

1.     Centralidade de Jesus Cristo: O que aparece logo em todas as aparições de Nossa Senhora é uma forte preocupação de despertar nos cristãos o amor de Deus pelos homens. Parece mesmo que a Nossa Senhora interessa muito esta mensagem: voltai a amar Jesus, que é o amor do Pai vivo e presente no meio de vós. A La Salette Maria chora pelos pecados dos homens que se afastaram de seu Filho. Queixa-se porque não agüenta mais sustentar o braço castigador de Jesus contra a humanidade pecadora. Em Fátima um anjo antes, e depois Nossa Senhora, convida a fazer obras de expiação contra os números pecados que ofendem a Deus. O mesmo pediu Nossa Senhora em Lourdes. A finalidade destes chamados insistentes é sempre a mesma: parar de desconhecer o amor que Deus tem mostrado à humanidade através de seu Filho Jesus. Em Guadalupe tinha se verificado um episódio bastante importante. Alguns missionários franciscanos que tinha chegado da Espanha até o México, foram ter com os majorais dos Índios Astecas para terminarem sua idolatria e seus antigos costumes; mas a resposta foi incisiva: “E agora, nós devemos destruir a nossa antiga regra de viver”?. E continuaram a levar em frente seus costumes. Mas o verdadeiro Deus estava preparando sua estratégia pra que aquele povo conhecesse e honrasse Jesus Cristo. Tudo mudou, de fato, oito anos depois daquela conversa: quando “a antiga rega de vida foi abandonada espontaneamente” (Oscar Quevedo, Nossa Senhora de Guadalupe). Em dezembro de 1531, o índio Juan Diego recebia a visita de Nossa Senhora na coluna de Tepeyac pedindo que lá o povo se reunisse numa capela para rezar. Em pouco tempo oito milhões de índios astecas pediram ao Batismo. O que os maiorais astecas e os missionários franciscanos não tinha obtido, Nossa Senhora obteve: Nosso Senhor começou  a ser amado e honrado por aquele povo que até então honrava ídolos com ritos e liturgias pagãs. E o amor a Jesus foi tão grane que ainda depois de gerações e gerações, o povo do México foi capaz de lutar e enfrentar o martírio durante a dominação maçônica de começo de 1990
2.     Oração: Não se volta a Jesus Cristo sem algumas condições. A primeira é a oração. Sem oração Jesus se torna alguém distante, fora da nossa vida, uma espécie de tapa-buraco que deve ser invocada como último recurso quando não se tem mais saída e não sabemos mais a quem nos dirigir. Para que Jesus esteja sempre vivo em nossas vidas é necessária a oração. O pedido, a respeito da oração, é uma constante em todas as aparições de Nossa Senhora. Todas, também aquelas que nós aqui não analisamos. Um pequeno episódio de Fátima pode nos esclarecer. Os partorzinhos estavam acostumados a rezar o terço todo dia. Mas a forma da oração não era muito ortodoxa. De fato rezavam Ave Maria e logo respondiam Santa Maria. Desta forma, rapidinho terminavam o terço. Um anjo, antes das aparições de Nossa Senhora, apareceu e consertou a oração e ensinou a eles outra bonita que rezaram até a morte: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e vos amo. Peço-vos perdão por aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam”. Muitas vezes Nossa Senhora pede a construção de capelas nos lugares das aparições. Este foi o pedido, por exemplo, que ela fez a Juan Diego em Guadalupe. A finalidade das capelas é sempre reunir os cristãos para rezarem e ela poder ajudar os que a invocam. Insistindo sobre a oração Maria nda mais faz senão confirmar com força o que Jesus já tinha ensinado através da parábola da viúva e do juiz injusto: é preciso rezar sempre sem nunca desistir (cf. Lc 18,1-8). Além disso, no Evangelho são inúmeras as vezes que Jesus fala da oração. E com seu exemplo de filho orante quantas vezes se transforma num incentivo para rezarmos mais: mestre ensina-nos a rezar (cf. Lc 1,1).
3.     O pecado: ofensa contra Deus: Em todas as aparições a presença do pecado é marcante. Não existe o pecado sozinho: existem homens que fazem pecados. Em La Salette Maria se queixa, chorando, dos sacerdotes que se desviaram da doutrina do Evangelho correndo atrás de novas ideologias. Em Fátima a insistência sobre a oração para a salvação dos pecadores é constante. Um dia os pastorzinhos têm a visão do inferno com almas sendo jogadas pelas chamas eternas. Em Lourdes nossa Senhora pede oração e penitência para a conversão dos pecadores. E a aparição de Guadalupe descongelou os corações dos índios que ainda adoravam os ídolos. O pecado é ofensa contra a bondade de Deus. E o pecador ofende a Deus desprezando a vida recebida no Batismo. A ira de Deus poderia ser muito grande. É assim que fala Nossa Senhora em La Salette e em Fátima. Cabe à Virgem sustentar o braço pesado do Senhor que quer castigar a humanidade. E ela faz este trabalho de intercessora porque o pecador é importante: para ele também Jesus morreu. E o que Nossa Senhora quer é que ele se salve deixando de pecar. É por isso que continuamente pede penitências e orações pelos pecadores. Fazendo isso Maria segue os passos de seu Filho Jesus que veio para os pecadores e não para os justos. De fato, morrendo por todos para que tivéssemos vida e a tivéssemos em abundância, Jesus nos diz que todos somos pecadores e que precisamos continuamente de conversão. As aparições de Nossa Senhora nos lembram esta situação perigosa em que cada um de nós se coloca e nos convidam a ficar prudentes para fugir das tentações e das oportunidades de pecado;
4.     Expiação e Sacrifício: Outra característica importante das aparições de Nossa Senhora é a insistência sobre o sacrifício e a oração em expiação dos pecados dos outros (além dos pessoais). O ponto de partida para entender esta maneira de agir de Nossa Senhora é o exemplo de Jesus. De fato Jesus, o inocente por excelência, pagou com sua vida pelos nossos pecados. Deste resgate é que veio para a humanidade toda possibilidade de voltar à comunhão com o Pai. Maria pede aos videntes (e por eles aos cristãos) que façam como Jesus: que ofereçam sacrifícios e orações para obter o perdão dos pecados daqueles que nem ligam com os pecados que fazem. Jesus ainda ensinou-nos que não tem maior amor que dar a vida pela pessoa amada. Pedir pelo pecador junto de Deu é certamente a concretização deste amor formidável que Jesus falava. Na vida dos santos que levaram a serio este tipo de súplica diante de Deus, os exemplos de salvação de pecadores são muito numerosos. Só um exemplo: Santa Teresinha do Menino Jesus obteve a conversão in extremis de um condenado à morte na França no fim de 1800. Contudo na maioria dos casos estas conversões ficam escondidas. De fato este é um trabalho da Graça de Deus junto ao coração de cada homem. Baste pra nós sabermos que o caminho está certo porque o próprio Jesus o percorreu;
5.     O terço: Era lógico que Maria, aparecendo, divulgasse a oração do terço: a oração de Maria por excelência. É o que aconteceu em Fátima, Lourdes e La Salette. Pareceria vaidade de Nossa Senhora: ela ensinar a rezarmos a ela própria! Mas não é bem assim. De fato o Terço é uma oração cristológica, que visa primeiramente a pessoa de Jesus Cristo. É fácil entender por quê. Sempre tem uma enunciação dos mistérios e estes mistérios sempre se referem a episódios do Evangelho que, diretamente ou indiretamente, falam de Jesus. Enunciados os mistérios, somos convidados a meditar e contemplar aqueles episódios fazendo-nos acompanhar pela recitação das dez “Ave Marias” costumeiras, e terminando com o “Glória ao Pai”. Desta forma Maria não chama a nossa atenção para cima dela, mas nos acompanha na contemplação da vida e das obras de Jesus a nosso favor. O Terço nos leva a conhecer melhor Jesus e seu amor por nós. Ele é para nós sermos mais cristãos acompanhados e encorajados por Maria;
6.     Os castigos de Deus: Nas aparições aparecem muitas vezes os castigos e as ameaças de castigo de Deus para coma a humanidade. Em Fátima até as crianças que presenciavam a aparição de Nossa Senhora tiveram uma terrível visão do Inferno como suplício supremo dos pecadores. A Deus não importa muito nos amedrontar. Deus quer amor e não terror. A La Salette Nossa Senhora se queixa do peso braço ameaçador do Filho tão ofendido, sobretudo por aqueles que deveriam amá-Lo e fazê-Lo amar pelos homens. Em Fátima, ainda Nossa Senhora que apareceu já quase no final da primeira guerra mundial, ameaça o início de uma segunda guerra mundial se os homens não se converterem. E dá um sinal premonitório: uma luz estranha no céu. Outra desgraça ameaçada em Fátima foi a implantação do Comunismo Ateu na Rússia e seus domínios, causando perseguições e mortes. Durante a história do povo de Israel Deus muitas vezes recorreu aos castigos. De fato os profetas muitas vezes ameaçaram com castigos divinos o Povo Eleito pela sua perversa conduta e pediam pronta conversão. Afinal, o que interessa Deus é que o homem se aproxime sempre mais ao seu Senhor com uma conversão constante. Ameaças e castigos têm de fato esta finalidade: incentivar sempre mais a conversão. Trata-se daquela poda que Jesus recorda na parábola da verdadeira videira e dos ramos (cf. Jo 15,2);
7.     Deus está presente à vida do homem: Queria terminar estas reflexões chamando a atenção sobre uma realidade embutida nas aparições: por Maria Deus se faz presente à vida da gente. Não seria necessário se a nossa fé de vez em quando não ficasse fraca e não adormecesse. Mas, visto que isso acontece, eis estes episódios significativos que sacodem nosso sono religioso e nos elevam a patamares de vida mais cristã. O veículo normal da presença de Deus em nosso meio é a Igreja que Cristo “amou e para qual se entregou... para apresentá-la a si mesmo toda bela, sem mancha e sem ruga ou qualquer reparo, mas anta e sem defeito” (cf. Ef 5,25-27). A Igreja, nos basta. Apesar de tantos cristãos que nada tem de santidade e abundam em defeitos. Mas tantas falhas dos homens de Igreja (cristãos e não somente padres) muitas vezes afastam homens de boa vontade do seguimento de Cristo. As aparições têm como finalidade despertar a fé na Igreja apesar das falhas dos seus filhos. Mas, porque tantas aparições de Nossa Senhora e tão poucas de Nosso Senhor? Trata-se, evidentemente de um mistério da vontade de Deus. Mas podemos tentar dar uma explicação que, porém não quer ser resolutiva. Provavelmente Deus permite que seja Nossa Senhora a nos falar e alertar porque ela é mais perto de nós e a sentimos como uma de nós. Sentimo-nos menos ameaçados. É mais fácil vê-la como Mãe que nos alerta, como uma mãe que alerta seus filhos.


[1] Texto elaborado por Dom Luís Ferrando, bispo diocesano de Bragança do Pará – Brasil, por ocasião do Ano Mariano (2012-2015).

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