segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Sacramento da Reconciliação

Pe. Márcio Pinheiro

  1. Deus Pai, em sua infinita misericórdia (2 Cor 5,18ss; Ef 2,4; Cl 1,20), enviou seu Filho ao mundo para salvá-lo (Jo 8,34-36) e para chamar a humanidade à sua luz (1 Pd 2,9). No mundo, desde o início, Jesus Cristo convidou-nos à penitência dizendo: “Fazei penitencia e crede no Evangelho” (Mc 1,4);
  2. Jesus Cristo não só exortou à penitencia (Cf. Lc 15), mas também acolheu e reconciliou os pecadores com o Pai (Lc 5,20. 27-32; 7,48). Todos os seus atos são expressões de seu amor eterno em favor dos homens: curou os enfermos para manifestar que tem poder de perdoar pecados (Mt 26,28) e, por fim, depois da Ressurreição, enviou o Espírito Santo sobre os apóstolos a fim de possuírem o poder de perdoar ou reter os pecados (Jo 20, 19-23) e receberem a missão pregar a penitencia e o perdão dos pecados a todas as nações (Lc 24,47);
  3. O próprio Jesus Cristo deu a ordem: “tudo o que ligares na terá será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Por isso, no dia de Pentecostes, Pedro pregou a remissão dos pecados por meio do Batismo (At 2,38; 3,19.26; 17,30);
  4. A vitória sobre o pecado nós a experimentamos primeiro no Batismo (Rm 6,4-10), depois na Eucaristia, o Corpo e o Sangue derramado para remissão dos pecados. Nela Jesus Cristo está presente como “vítima de nossa reconciliação” para que sejamos reunidos num só corpo (Cf. Oração Eucarística II). Além do Batismo e da Eucaristia, como vimos acima, nosso Senhor Jesus Cristo concedeu o poder de perdoar os pecados aos apóstolos e a seus sucessores, instituindo o Sacramento da Penitência na sua Igreja. Assim, “a Igreja, além da água do Batismo, possui as lágrimas da Penitência” (Santo Ambrósio);
  5. “A Igreja, santa e sempre necessitada de purificação, busca sem cessar a penitência e a renovação” (LG 8) para que seus membros possam atingir o ideal proposto por seu fundador: “sede santos, porque sou santo” (Cf. Mt 5,48; 1 Pd 1,14ss);
  6. Participando da paixão de Cristo pelos seus sofrimentos (Cf. 1Pd 4,13) e convertendo-se cada vez mais ao Evangelho de Cristo pela prática das obras de caridade e de misericórdia (Cf. 1Pd 4,8) o povo de Deus prática e realiza esta contínua penitência, sobretudo através da Liturgia da Igreja;
  7. Pelo Sacramento da Penitência os fiéis obtêm o perdão e a misericórdia de Deus e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja, que eles feriram pelo pecado e que colabora para sua conversão com a caridade, o exemplo e as orações (Cf. LG 11);
  8. O fim último da penitência é o amor intenso e a entrega total a Deus (Cf. LG 11). Assim, por meio do Sacramento da Penitência, voltamos ao Pai que “nos amou primeiro” (Cf. 1 Jo 4,19), ao Cristo que se entregou por nós (Cf. Gl 2,20; Ef 5,25) e ao Espírito Santo que nos foi dado em Pentecostes (Cf Tt 3,6);
  9. Há pessoas que deixam de lado este Sacramento e afirmam, às vezes, que confessam “somente com Deus”. Quem assim procede desconhece a união de Cristo Cabeça com seu Corpo, a Igreja (Cf. Ef 1,22-23), na qual Cristo quer criar a Humanidade Nova e reconciliada em um só Corpo por meio de sua Cruz. Ignoram também o que diz a Palavra de Deus: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para que sejais salvos” (Cf. Tg 5,16). Na prática, estas pessoas consideram Cristo separado de sua Igreja. No entanto, está dito “que ninguém separe o que Deus uniu” (Mt 19,6);
  10. Somente Deus pode converter o coração humano, só o Senhor pode tornar “de carne” um coração “de pedra” (Cf. Ex 11,10). Só Ele, que conhece “os segredos do coração” (Sl 24/23,4) pode criar no ser humano pecador “um coração puro” (Sl 50/51,10) e curar os de coração ferido, machucado, “quebrantado”: “aos corações partidos ele cura, vai suas feridas medicando” (Sl 146,3).
  11. A Igreja deve dar testemunho da misericórdia de Deus revelada em Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, deve professar e proclamar a misericórdia divina em toda verdade, tal como foi transmitida pela Revelação[1].



JOÃO PAULO II. A Misericórdia Divina. São Paulo: Paulinas, 1980.
Compêndio Vaticano II. São Paulo: Vozes, 1980.




[1] Cf. A misericórdia de Deus na missão da Igreja in João Paulo II, A Misericórdia de Deus. São Paulo: Paulinas, 1980, pp. 57-70.

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