terça-feira, 31 de maio de 2011

Sentir-se Especial


Pe. Zezinho, scj

Ligue o rádio e a televisão, demore-se um pouco a ouvir os pregadores das mais diversas igrejas, principalmente os pentecostais e perceberá o apelo ao indivíduo e o acento na expressão “você que”.
Você que está enfermo, você que tem um filho problemático, você que está deprimido, você que tentou todos os caminhos e não encontra solução... É o ato de chamar. O pregador ou a pregadora singuariza o fiel e pede a sua atenção. E vem a oferta: “Deus está lhe oferecendo a salvação e a cura”. A seguir, vem a proposta: “Venha até nós” Supostamente, pela mídia, o pregador já foi até à casa do telespectador ou ouvinte. Agora, haverá um encontro pessoal do indivíduo visitado pela mídia com o pregador no templo. Em algumas pregações, o pregador ou a pregadora lhe oferecerá a catequese daquela igreja. Finalmente virá o convite para a adesão. Ali será o novo lugar do novo crente.
Tudo começa com a singularização do fiel. “Hei, você aí. Deus tem uma salvação para você”. “Deus tem um recado para você”. Numa era de acentuado individualismo singularizar o sofredor, o confuso, o ferido na alma, o perplexo é o começo de uma boa comunicação. O convite pessoal e o acento nas palavras “você que está aí” “venha até nós” funciona como ímã. Que pessoa ferida não vai ao pronto socorro?
Que alma ferida não irá àquele que diz que tem uma solução que vêm do céu? Que alma sedenta não quererá ouvir um homem que lhe diz que Deus fala com ele? O mundo tem enorme necessidade de guias e de profetas. De repente aparece no vídeo e no rádio um irmão que lhe garante que o céu conversa com ele e que há um irmão num templo, curando, perdoando, mostrando a verdade e transformando vidas. Quem não iria? Naquela igreja acontecem lágrimas, milagres, curas, lá alguém anda, alguém joga fora os óculos e as muletas, tudo diante dos seus olhos. Como não ir lá? Na igreja que ele freqüentava havia mais doutrina que milagres.
Aristóteles, já naquele tempo, (* 384 - + 322 a.C.) dizia que os fiéis iam ao culto, não para aprender ou armazenar doutrinas, (mathein) e, sim, para experimentar sentir o mistério, “pathein”. Isto de cabeça e coração em Deus já vem de longe. Há o que dão a Deus os dois e há os que dão apenas um...

Nenhum comentário:

Postar um comentário