terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Arte de Comunicar


Pe. Márcio Pinheiro

O ser humano é por natureza um ser de comunicação. A comunicação estreita os laços de amizade e fraternidade entre as pessoas e instituições e, ao mesmo tempo, amplia e favorece o conhecimento, a cultura. A comunicação é essencial.
É preciso dar conta da comunicação como atividade dinâmica e um processo de contínua atualização e interação entre os agentes e instâncias envolvidas. Neste sentido, os comunicadores que opinam tem um lugar de relevância; é necessário ter consciência que não basta apenas transmitir, é preciso sair de si, ser espelho, interagir, de forma natural, distinta e clara com os interlecutores e ouvintes.
A mídia e a opinião pública se estrelaçam e se opõem reciprocamente. São forças vivas de um povo. A imagem cansa, desgasta e se esvai. A Palavra é mais contagiante. Entretanto, na era da televisão e do indivíduo há um constraste: fixa-se o olhar na câmara e se esquece da palavra, do conteúdo, da mensagem, da notícia.
Na era da comunicação precisamos compreendermos as relações institucionais entre mídia e Igreja, superando o paradigma clássico ou informacional, cujo objetivo era produzir, suscitar efeitos, imagens, representações no polo receptor,  e enveredarmos no modelo praxiológico, onde o contexto social e a cultura, os discursos, os posicionamentos e as ações práticas dos sujeitos são elementos que interagem para a compreensão da realidada subjacente.
Nesta perspectiva surge muitos outros horizontes que nos fazem refletir e, ao mesmo tempo, nos alertam para percebermos as novas e atuais "inspirações" emergentes. Isso significa que temos de atualizar nossa linguagem e discutir os assuntos polêmicos de forma aprofundada, pois o grau da discursão, do conhecimento, depende da formação das consciências das pessoas envolvidas. Desta forma, por mais que a mídia seja tendenciosa, a pessoa conseguirá, de forma crítica fazer suas ponderações e apreender as reais intenções dos meios de comunicação de forma a ampliar seus conhecimentos e elaborar sua síntese acerca dos temas abordados.
Diante desta realidade somos desafiados a apreendermos o que a bondade, a criatividade e a dinâmica do Espírito divino propõe à nossa vida. Assim, com certeza, a cultura e a vida das pessoas que nos rodeiam, sirvam de luzes e incentivo para o crescimento humano e espiritual de todos nós. Tudo isto indica que precisamos agir e atuar com mais humildade, mas também com mais ousadia, fazendo com que a mensagem do Evangelho seja apresentada, através dos meios de comunicação, de forma a atingir e expressar aquilo que ela é em si: Boa Nova. Noutras palavras, precisamos aprimorar nossa maneira de comunicar as verdades da fé, de acordo com as exigências de nosso tempo.
Neste sentido, gostaríamos de destacar a comunicação litúrgica que nos envolvem e atinge pela salvação operada por Jesus Cristo de maneira que o mistério Pascal d’Ele se atualiza e se faz presente na vida da comunidade celebrante. Na comunidade experimentamos todas as realidades da fé: o Batismo, a partilha da Palavra, a Eucaristia, a Esperança, a Unidade com Deus Uno e Trino, o amor fraterno, a missão, a sabedoria da cruz, a abertura do coração e a entrega da vida. A maneira litúrgica de se comunicar estes mistérios se dá pelo uso de palavras, gestos e sinais/símbolos explicados pela fé.
É preciso redescobrir o valor da missa e a sua simbologia; o mistério não se esconde, revela-se; manifesta-se. O símbolo explica. É preciso repensar e dar mais atenção ao uso dos símbolos/sinais na litúrgica católica, bem como formação litúrgica às comunidades de fé que celebra o Mistério Pascal de Cristo. E mais: precisamos ter consciência de que a liturgia não é uma mágica, mas uma dádiva que nos compromete e nos faz cada vez mais responsáveis pela construção de uma sociedade mais justa e fraterna à luz da Trindade Santa. Tudo isso só é possível pela iluminação da fé.
Os frutos/resultados da comunicação serão percebtíveis quando causarem impacto, provocarem mudanças croncretas e reais na vida das pessoas. a comunicação litúrgica, religiosa, deve pretender, dentre outras, segundo Padre Antonio Vieira, “não que os homens saiam contentes, mas descontentes; não que pareçam bem nossos conceitos, mas que pareçam maus os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados” (Sexagésima, X).
Em suma, dado que a comunicação é um dom e uma arte, temos que continuamente atualizar nossa linguagem para que sempre mais pessoas possam transmitir a Palavra de Deus, sua mensagem de amor, e o convite à conversão de maneira criativa e dinâmica.

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