sábado, 12 de fevereiro de 2011

Questões sobre a Teologia das Religiões

Pe. Márcio Pinheiro
A Teologia das Religiões

 O ser humano por natureza é um ser religioso. Desde o início do mundo o homem sempre se relacionou com o sagrado. Neste sentido, o cristianismo, como religião, sempre teve um destaque. Assim podemos falar, desde Constantino, com a liberdade de expressão religiosa, através do Edito de Milão, passando por Teodósio, com a escolha da Igreja Católica como religião predominante no Estado, até chegar no Vaticano II com o exclusivismo religioso católico, mas com a abertura ao diálogo inter-religioso e as declarações contidas nos documentos conciliares a respeito dos princípios de justiça e verdade contidos nas demais manifestações religiosas e o fervilhar de ensaios, simpósios, debates e publicações acerca da teologia católica das religiões. Muitos foram os textos já publicados: Ecclesiam Suam, Lumen Gentium, Gaudium et spes, Ad Gentes, Nostra Aetate, Evangelii Nuntiandi, Santo Domingo, Medelin, Aparecida, dentre outros. A partir do Vaticano II, muitos autores focalizam a necessidade do encontro com Cristo, com o sagrado, mediante ou não a participação numa denominação religiosa, como requsito para a salvação. Três são as posições emergentes: exclusivismo, inclusivismo e pluralismo. Estes pontos de vista são elucidativos, pois destacam as particularidades de cada posição e permite vislumbrar certas distinções mais amuide. Diante desta realidade destaca-se a importância do Magistério Católico. Tendo como foco Jesus Cristo, seu projeto, sua vida, sua palavra, suas ações... o Magistério faz afirmações universais que norteiam a vida de cada crente em particular e da  Igreja como um todo. Assim entendemos o porque da afirmação perenética que se destina explicitamente aos católicos conscientes da sacramentalidade da Igreja: “extra ecclesiam nulla salus”, bem como o seu desdobramento: “extra Christum nulla salus”. Noutras palavras, a Igreja respeita as demais teologias e religiões, mas ao mesmo tempo, tem consciência de sua importância e atuação como continuadora da ação salvífica de Jesus Cristo no mundo.

Cristo, a Igreja e as religiões: o que diz o magistério católico? 

O Magistério Católico no decreto Nostra Aetate e nos demais documentos conciliares e pós-conciliares ressalta, dentre outras coisas: a centralidade de Cristo-Redentor; a Igreja, Sacramento de salvação para as nações; a presença de elementos (germes) de bem e verdade nas diversas religiões e a colaboração delas para a salvação de seus seguidores; a missão da Igreja é promover a unidade e o amor entre os povos; a figura da divindade é comum a todas as religiões; a Igreja Católica não rejeita as práticas religiosas das outras religiões, ainda que se distanciem do que ela crer e ensina, mas, por outro lado, sente a obrigação de anunciar que Jesus, é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 16); todos os povos são chamados a encontrar a plenitude da religião que é o próprio Cristo (2 Cor 5, 8-9); a Igreja, quer fazer fluir o pensamento de Cristo: a rejeição total da discriminação ou perseguição por causa das diferenças de raça, cor, condição ou religião.

diálogo e anuncio: Como concretizar a unidade do Povo de Deus num mundo dividido e a partir de pessoas fragmentadas? 

 De acordo com a Sagrada Escritura, o Plano de Deus a respeito da criação e da humanidade é “recapitular todas as coisas em Cristo” (cf. Ef 1,10). Como é de conhecimento de todos Jesus derrubou o muro da separação, a inimizade que havia entre os povos, em sua própria carne (Ef 2,13-16). Todos os povos com suas diferentes culturas são chamados a viver em fraternidade, em vista de constituírem um só e único povo de Deus. No entanto, as igrejas cristãs se defrontam com o seguinte problema: como dar testemunho de unidade cristã num mundo dividido? O problema não se coloca tanto em relação ao objetivo do movimento ecumênico nascente, que é a unidade, mas na definição dos caminhos que devem levar à essa unidade. Portanto, o problema da unidade do povo de Deus é inseparável dos de sua divisão e de suas diversidades, fazendo-se necessário, em primeiro lugar, tentar compreender o que separa os  seres humanos... O problema da divisão não atinge somente o âmbito da relação entre as pessoas na compreensão e vivência de sua fé, mas perpassa o próprio ser de muitas pessoas. Nesse contexto surgem muitas e diversificadas propostas de experiência do sagrado nas inúmeras confissões e expressões religiosas, que vão desde aquelas ligadas ao esoterismo ou às milenares religiões de origem oriental, até as inúmeras expressões do movimento neo-pentecostal. Precisamos lutar por construir primeiramente a unidade do ser, de modo que cada pessoa, reconstruída em sua totalidade e unidade ontológica, possa estabelecer relações maduras com o Absoluto e com seus semelhantes, vistos agora não como adversários e concorrentes, mas como irmãos. Assim sendo, a luta pela reconstrução da integridade das pessoas, deve preceder e acompanhar todo e qualquer esforço ecumênico. O Concílio Vaticano II, no Decreto Unitatis Redintegratio, diz que “a preocupação de restaurar a unidade deve concernir a toda a Igreja, tanto aos fiéis quanto aos pastores (...) tanto no que se refere à vida cristã, quanto no que diz respeito aos estudos teológicos e históricos”, de tal modo que a própria união de todos neste esforço, já se constitui um passo nessa busca da união fraterna plena. (Cf. UR, nº 5). Enfim, devemos levar afinco as orientações do Documento “Diálogo e Anúncio”: "o diálogo e anúncio são tarefas difíceis, mas absolutamente necessárias". Todos os cristãos, cada um no próprio âmbito, deveriam ser encorajados a preparar-se melhor para cumprir o seu duplo empenho. Contudo, muito mais que uma tarefa a se cumprir, o diálogo e o anúncio são graças pelas quais é preciso rezar. Todos, portanto, devem implorar incessantemente o auxílio do Espírito Santo, a fim de que seja "o inspirador decisivo dos seus planos, das suas iniciativas e da sua atividade evangelizadora" (EN 75).

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